Quantas orações pedindo uma vida sem dor. Quanta gente desesperada esperando um alívio. Mas como seria viver sem essa sensação?
Marisa Martins, de 23 anos, conta que nunca teve dor de cabeça, de dente, de barriga nem dor nas costas. "Eu queria sentir dor porque todo mundo sente", diz.
O sol arde na pele, sem dó. Na grande plantação de batatas, o trabalho é duro. São dez horas de jornada, sem sombra, quase sem descanso. Nem a posição em que trabalha deixa Marisa com dor nas costas.
Na beira do Rio Paranapanema, sudoeste de São Paulo, Campina do Monte Alegre tem só 6 mil habitantes. Marisa é quase uma atração. Ela sabe quando faz frio ou faz calor. Pelo tato, sabe o que é macio ou áspero. Mas dor, mesmo, nenhuma. "Pode pegar uma faca e me cortar que eu não sinto", afirma.
A vida inteira foi assim. Em uma família com cinco crianças, apenas ela e o irmão nasceram com insensibilidade congenita à dor, uma mutação genética raríssima
. Médicos do Hospital das Clínicas de São Paulo estão pesquisando essa síndrome em cinco pacientes, e os exames de todos eles estão sendo analisados na Inglaterra.
. Médicos do Hospital das Clínicas de São Paulo estão pesquisando essa síndrome em cinco pacientes, e os exames de todos eles estão sendo analisados na Inglaterra.
"Hoje sabemos que a maior parte desses pacientes que não sentem dor tem um tipo de polineuropatia, uma doença dos nervos periféricos muito específicos, mais fininhos, que carregam a informação de dor", esclarece o neurologista Daniel de Andrade.
Sem esse sinal de alerta, a moça carrega o corpo todo marcado por uma vida de acidentes. "Não sinto o fogo me queimar. Quando vejo, já está inflamado. Desde criança eu queimava a boca com comida quente. Agora, eu ponho a comida no prato e, enquanto estiver como fumaça, não como", conta Marisa.
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