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sábado, 20 de agosto de 2011

Quero ir para a minha casa!

O preconceito e a doença de Alzheimer O preconceito e a doença de Alzheimer
O preconceito e a doença de Alzheimer
Ocasionalmente ouço familiares e cuidadores de portadores da Doença de Alzheimer queixarem-se de pessoas conhecidas ou desconhecidas apresentarem atitudes preconceituosas para com o portador da doença ou para com a doença em si. No Brasil, é comum ouvirmos falar de preconceito de cor, sexo, classe social, orientação sexual, idade e também em relação a algumas doenças, como, por exemplo, o câncer, a tuberculose, a AIDS, a doença mental, dentre outras. Pelo que já se pode perceber, a Doença de Alzheimer (D.A.) já está incluída na categoria “outras”. Mas por que existe tanto preconceito com essa doença?
Primeiramente, faz-se necessário definir “preconceito” (Dicionário online Michaelis UOL):
“1 Conceito ou opinião formados antes de ter os conhecimentos adequados. 2 Opinião ou sentimento desfavorável, concebido antecipadamente ou independente de experiência ou razão. 3 Superstição que obriga a certos atos ou impede que eles se pratiquem. 4 Sociol Atitude emocionalmente condicionada, baseada em crença, opinião ou generalização, determinando simpatia ou antipatia para com indivíduos ou grupos.”
A partir destas definições, tentaremos responder à questão anteriormente levantada, sobre o porquê do preconceito em relação à doença e aos portadores. Lembramo-nos que a doença em si já traz muito sofrimento para o portador, mas, principalmente, para os familiares, e o preconceito só vem a aumentar este sofrimento.
Inicialmente, pode-se pensar que muitas pessoas ainda desconhecem a D.A. e, por isto, se assustam quando se deparam com um idoso com mudanças bruscas de comportamento, ou julgam-no inadequadamente como violento ao se depararem com um episódio de agressividade característico da doença. É este tipo de opinião pré-formada que ajuda a reforçar a crença de que todos os idosos são ranzinzas e “caducos”, reforçando a crença de que as perdas de memória são normais e que não há necessidade de procurar um médico nestes casos.
O preconceito também acaba por fazer com que as pessoas rejeitem qualquer informação acerca da doença. Por exemplo, até hoje existem pessoas que se referem ao câncer como “aquela doença” como uma espécie de proteção, pois acreditam que ao falarem o nome da doença estariam atraindo a mesma. Em relação ao Alzheimer, percebo que muitos familiares de idosos também rejeitam saber mais sobre o assunto por medo, outros adotam aquela postura de não ir sempre ao médico, pois “se mexerem muito irão descobrir alguma doença”, enquanto outros, mesmo diante de sintomas suspeitos, preferem justificar para si mesmos que é algo normal, muitas vezes em função de seu próprio preconceito por um possível diagnóstico da D.A.
Também é possível observar preconceito em certas atitudes que refletem crenças, muitas delas formadas antes de se ter conhecimento da situação, como, por exemplo, o medo de ser uma doença necessariamente de ordem hereditária (“meu avô teve D.A., portanto minha mãe, filha dele, também o terá e eu também terei” – o que justifica um medo irracional frente a qualquer esquecimento cotidiano). Outras pessoas parecem cultivar a crença de que o Alzheimer é uma doença transmissível e, por isso, limitam suas relações com os portadores. Parecem ter medo de se contaminarem pelo simples fato de tocarem, abraçarem ou ficarem próximos do portador. Outros, talvez devido ao contato prévio com outros portadores, acreditam que necessariamente todos serão agressivos e, por isso, restringem suas relações com os mesmos como uma forma de protegerem sua integridade física contra uma possível ameaça. Este último exemplo aponta como uma generalização acaba por gerar antipatia para todos os membros de determinado grupo.
O preconceito é expresso nas opiniões que muitas pessoas expressam sobre o tema, como: “Prefiro morrer cedo a perder minha lucidez e minha dignidade”, “Se eu perceber que tenho Alzheimer cometo suicídio, não quero que meus filhos vivam comigo o terror que vivi com meus pais”, dentre outros comentários. Podemos observar um resquício de preconceito até em brincadeiras aparentemente despretensiosas como, por exemplo: “Como você está esquecido! É Alzheimer?” “Não me lembrei mesmo, acho que ‘o Alemão’ me pegou!”.
Assim, é possível observarmos como o preconceito está presente diante daquilo que não conhecemos bem ou que tememos. Em relação à Doença de Alzheimer, é importante revermos nossos conceitos. A informação é um grande aliado na quebra de estigmas e crenças infundadas sobre o assunto. Segregar um portador da D.A. não ajuda a afastar o problema de você, apenas torna a situação ainda mais difícil para o portador e principalmente para o familiar, que, além de todos os problemas relacionados à doença, tem que conviver com o preconceito, que é uma doença transmissível e incurável.

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