Mulheres que amam bandidos rendem bons enredos para ficção, como mostram duas recentes produções da Globo, a novela “Viver a Vida” e o seriado “Cinquentinha”. Mas esse tipo de envolvimento é bem mais comum do que se imagina na vida real. Que o diga o jornalista e roteirista Gilmar Rodrigues, que ficou extremamente intrigado quando descobriu que Francisco de Assis Pereira, mitificado pela mídia como maníaco do parque, acusado por dez mortes e 11 ataques sexuais, era um dos que mais recebiam cartas amorosas na Casa de Custódia e Tratamento de Taubaté (SP) – onde cumpre os primeiros dos 274 anos de prisão aos quais foi condenado. O que motiva uma mulher a se apaixonar por um condenado por crimes sexuais e assassinatos? A pergunta motivou Rodrigues a realizar uma intensa pesquisa, que durou quatro anos, até culminar na publicação do livro “Loucas de amor – Mulheres que amam serial killers e criminosos sexuais” (Editora Ideias a Granel, R$ 32).
O bandido que chocou o país com a brutalidade de seus crimes também arrasou corações depois de ficar famoso, com o rosto estampado nas capas dos principais periódicos. Além de correspondências com declarações de amor de mulheres que nunca havia visto na vida, presentes – incluindo calcinhas – endereçados à sua cela também eram bastante comuns. Francisco de Assis chegou a se casar com uma dessas admiradoras, Marisa Mendes Levy, pós-graduada em História, mas o relacionamento não durou por muito tempo. De acordo com o autor, embora seja possível supor que esse interesse seja causado por desejo sexual, a busca destas mulheres é pelo amor romântico. “Nas cartas destinadas ao maníaco do parque, raramente o teor continha alguma conotação sexual. É uma relação muito peculiar e paradoxal, pois quanto mais cruel e sexualmente predador, mais elas criam uma fantasia romântica deles.”
Perfil
Traçar um perfil destas mulheres não foi tarefa fácil. “O recorte era muito amplo, mas a maioria é extremamente pobre e pouco atraente. Também existem as universitárias, muito bonitas, de classe média, e, com uma ou outra exceção, sem problemas mentais aparentes”, revela Rodrigues. Mas, depois de estudar mais a fundo, o autor ressalta que não é correto rotulá-las como loucas ou degeneradas sexuais. Na maior parte dos casos, são pessoas que tiveram relacionamentos afetivos deficientes, sofreram abuso sexual e abandono na infância, além da falta de carinho e atenção dos pais. Normalmente essas mulheres têm baixa autoestima e enxergam esse amor de uma forma romântica e infantilizada. Para outras, ligar-se com homens “marginalizados pela sociedade” faz com que haja uma simbiose com o criminoso, já que elas se veem na mesma situação. Para o autor, elas o enxergam como um igual.
Para elaborar o livro, Gilmar Rodrigues realizou mais de 100 entrevistas, com presos, mulheres que se correspondiam com estes homens, advogados, administradores e agentes penitenciários, policiais, jornalistas e psiquiatras. Ele também se apoiou em outros casos que ganharam mídia, como o Chico picadinho e o bandido da luz vermelha – que receberam tratamento semelhante das admiradoras. Além da transcrição das cartas, depoimentos de especialistas tentam esclarecer os motivos destes interesses distorcidos.
O livro traz ainda 30 páginas de quadrinhos ilustradas pelo desenhista Fido Nesti, que retratam uma espécie de making of da publicação. O espaço apresenta as experiências e viagens realizadas por Rodrigues durante a elaboração e pesquisas para a obra, que já tem continuação com lançamento de “Loucas de Amor HQ” previsto para janeiro de 2010.
A arte imita a vida
A novela “Viver a Vida”, da Globo, de Manuel Carlos, mostra a história de Sandrinha (Aparecida Petrowsky), que namora Bene (Marcello Melo), um mau-caráter assumido com passagens pela polícia. Ele sempre tenta tirar vantagem das pessoas – inclusive da namorada, que se apaixonou por ele nessas condições e teve um filho dele. Mesmo contra a vontade da família e diante de todos os indícios da má índole de Bene – ele bate em Sandrinha -, ela teima em continuar o relacionamento “em nome do amor”.
Em “Cinquentinha”, trama de Aguinaldo Silva, a atriz Tatyanne Goulart encarna Vanessa, uma jovem rebelde de 15 anos, que se apaixona por Olhão (Fabrício Santiago), traficante de uma favela carioca, e ainda sobe o morro com ele para ajudá-lo com as drogas. O autor do seriado exibido em dezembro de 2009 resolveu incluir essa personagem no seriado depois de acompanhar tantas notícias sobre meninas da classe média carioca que vivem o mesmo tipo de romance.
que amam serial killers e criminosos sexuais
Fonte: http://estilo.uol.com.br/comportamento/ultnot/2009/12/27/a-intrigante-paixao-de-determinadas-mulheres-por-bandidos.jhtm
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