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segunda-feira, 8 de agosto de 2011


Estava na rua do bar, bêbado. Bêbado ao ponto de desaprender a andar ou falar. Caiu num laguinho, de rosto virado pra água. Um mendigo também um pouco bêbado viu, percebeu que se nada fizesse, o homem morreria. Se aproximou, e com suas mãos calejadas e sujas puxou o homem que se afogava pela gola da blusa. O mendigo olhou e sorriu. O homem tentava recuperar o fôlego e tossia, depois de um pouco tempo, o mendigo percebeu que agora o homem dormia.
Algumas muitas horas depois, o homem acordou e percebeu que havia um mendigo sentado do seu lado. Não gostava de mendigos, e quem gostava? Não se culpava por não gostar deles. Em casa pensava que os mendigos não tinham rosto, não tinham identidade alguma, mas este, estranhamente parecia ter. “É um mendigo velho, e a vida na rua talvez tenha lhe dado alguma sabedoria”, pensou. Logo depois viu uma garrafa de cachaça na mão do mendigo, e ficou refletindo algum tempo. O mendigo virou para o homem e disse:
- Devia beber menos.
- O quê?
Receber conselhos de um mendigo? Faça-me o favor, definitivamente o homem não precisava disso. Principalmente hoje.
- É, beber menos. Hoje você não morreu por pouco.
O homem lembrava, mas pensava que era um sonho. Olhou para os lados, viu que já anoitecia e se perguntava o que ainda estava fazendo, sentado ao lado de um mendigo. O mendigo continuou:
- Talvez você não acredite, não leve nada do que eu digo a sério, e eu vou entender se assim fizer. Mas é só um conselho: cuidado.
- Obrigada, pelo conselho e por salvar minha vida.
O homem agora pensava, se o que o mendigo havia dito merecia alguma reflexão. Ainda estava zonzo. O mendigo sorriu e disse:
- Não tem de quê. Não sei o que te trouxe a esse bar hoje, e que quase acabou com você… Mas espero que não deixe se repetir. Um dia você pode vir a ser alguém sem rosto também. Não precisa agradecer, só espero que você saiba o que fazer com ela.
- Ela quem?
- A sua vida, faça com que ela seja algo que realmente tenha valido a pena salvar.

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