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sexta-feira, 4 de março de 2011

Todo homem é folgado?

O que leva um homem a se afastar dos filhos após uma separação? Por que eles acham que, depois do divórcio, podem ser irresponsáveis e agir como se fossem solteiros de novo? Como é possível um homem sair toda noite para tomar cerveja, mas dizer que não tem dinheiro para a pensão dos filhos? Será que os homens são mesmo uns folgados? Cartas para a redação
É uma história comum. Numa separação, os filhos ficam com a mulher. O sujeito não reclama. Vai no vácuo do desejo dela, que jamais admitiria a hipótese de não ficar com os filhos. Aí ele se descobre confortável nessa posição. Se esconde ali, na tepidez daquela irrelevância. Vai tirando paulatinamente o pé do acelerador. Se deixa afastar do veículo que leva seus filhos -quase sempre para bem longe dele. O sujeito vai ficando cada vez mais distante, menos presente, menos relevante. Deixa de participar. Deixa de influir, de opinar. Vira visita. Uma visita rara e nem sempre desejada. Vira um estranho. Um forasteiro no seio daquilo que um dia foi a sua família. Ou seja: o sujeito se separa da mulher e aproveita para se apartar dos filhos também. Ele deixa de ser pai.
Às vezes nem é preciso haver um divórcio para que esse afastamento aconteça. Não é raro ver, na divisão de responsabilidades do casal, os filhos ficarem totalmente na conta da mãe. O pai está em casa, mas é como se não estivesse. Paga as contas, senta no sofá com o jornal, assiste à televisão, se tranca no banheiro. Os filhos sabem que ele está no quarto, no escritório, que está no trabalho ou viajando. Mas trata-se de uma figura masculina ausente, longínqua, inacessível. É como se os filhos pertencessem ao departamento da mãe e fossem obrigados a acessá-la preferencialmente. Como se o pai, convenientemente, tivesse de respeitar essa organização e, para não adentrar o território da mãe, falasse apenas o estritamente necessário com os filhos. E não se envolvesse emocionalmente com eles.
Nem sempre é assim. Tem muito pai que faz questão de estar presente. Se mora com a família, participa, ajuda na lida da casa, senta à mesa de jantar e puxa conversa, pergunta das coisas da escola, quer conhecer os amigos e os namorados. Distribui tarefas, faz planos, dá bronca, elogia. E se envolve emocionalmente, se mostra solícito, oferece experiências e sentimentos. Se não mora mais com a mãe, faz questão de se manter próximo, quer estar inteirado de tudo que acontece, participa da orientação dos filhos, e às vezes até concorda em aturar o novo namorado da mãe só para oferecer aos filhos um ambiente mais harmonioso.
Mas é fato que há um número enorme de homens que se desincumbe dos filhos -principalmente na separação. Que simplesmente entrega os rebentos à guarda da mãe: 'Toma que os filhos são teus'. E que acha que o divórcio equivale a uma volta à vida solteira, boêmia, sem compromissos. Tem cara, por exemplo, que decide mudar de carreira exatamente nesse momento. E se permite meses, às vezes anos, de recomeço mal remunerado. Uma coisa que as mães jamais fariam, por mais que detestem seu emprego atual, porque sabem que elas não podem faltar na hora de colocar comida dentro de casa. Os homens se dão esse luxo com mais facilidade. Muito porque sabem que, em última instância, podem contar com elas. As mulheres, ao contrário, não o fazem precisamente porque sabem que, na maioria dos casos, não poderão contar com eles.
É curioso que isso aconteça, mesmo quando os filhos são projetos decididos a dois por casais modernos. Por que será que existe essa diferenciação entre homens e mulheres no que toca à sensação de obrigação e de responsabilidade sobre o sustento e o bem-estar dos pimpolhos? Como um pai que não paga pensão, não contribui com o colégio ou com a comida dos filhos, pode tomar uma cerveja, ou comprar um sapato novo, ou levar a nova namorada a um motel é coisa que não consigo entender.


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