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terça-feira, 15 de março de 2011

Depoimento de uma amiga


Pronta para sair e a dama de companhia que contratara para ficar com a mãe naquele dia, nunca que chegava. Agitada, eu só ouvia o pipocar dos saltos de suas sandálias na sala.
Tinha ainda, que ajudar a filha recém casada com as compras no supermercado. E fazer compras para seu próprio negócio, uma lanchonete.
A velha mãe, recostada no sofá, acompanhava com os olhos a agitação da filha. Que durou até a contratada chegar.
Uma corrida até o supermercado e filha já lá, esperando. Junto, a netinha de três anos. Percorriam as gôndolas quando a menina, teimosa, quis subir nuns engradados de bebidas que por ali estavam.
Ela alertou: – Estão vazias. Se você for subir, elas vão virar prá cima de você.
E a filha: – Mãe, quanto eu compro de carne?
E ela para a netinha: – Não suba nessas caixas, tou avisando…
E a filha desistiu da resposta e foi para a área do açougue. E a menina subiu mesmo nas caixas e elas viraram sobre ela. Berreiro se formou.
A filha que volta com um pacote de uns dois quilos na mão, grita:
- Mãe! Você não olhou ela!, e acode a filha.
Ela, vê o enorme pacote e pergunta: – O que é isso?
- Carne, oras – responde a filha, com cara de sonsa.
- Um pacote desses de carne, só para você? (O genro, é vegetariano…)
- Então, quanto?, impacientou-se a filha.
Ela toma o pacote de carne da mão da filha, com a neta ainda chorando no colo, e as arrasta para o açougue:
- Moço, ela pegou errado. Troque para mim?
- Ai, mãe! Que vergonha! Como errado?
- Saco. Só você come carne em sua casa. Um monte assim vai estragar, sua…. Ah,meu Deus!, ergue os olhos para o alto (Que anta!)
- Pega duas bistecas, dois bifes, dois bife a rolé… Assim, entendeu? (Anta, anta, anta!, pensou…)
A filha fez um muxoxo e ficou “de bico”.
No caixa, a neta refeita do susto com as caixas e garrafas caindo por cima de si, intenta com o dilplay de revistas.
Mãe e avó nem viram. E uma das caixas de arame prendeu a mão da menina. E outro berreiro.
Ela, já passando de stressada.
Por fim, tudo e todas acomodadas no automóvel da filha. A primeira parada, sua lanchonete, para deixar suas compras para a sócia trabalhar. Final de semana o movimento dobrava e muito trabalho viria.
Quis parar o mais próximo possível. E avisou: – Pare ali, pare ali!
Mal a filha parou o carro, um celular tocou. Colocou a neta no colo da filha e atendeu. Era o namorado, querendo “discutir a relação”.
Ela, saindo do carro com o telefone no ouvido, acenando para um funcionário da lanchonete vir descarregar sua carga, quando se acercam uns parentes que passeavam por ali.
Entre eles, uma menina, amiguinha da netinha traquinas.
A filha, no volante do carro, observa um policial de trânsito fazendo sinais para elas.
- Ai, mãe! Você me fez parar em lugar proibido! Meu marido vai me matar!
O policial não estava multando, ele era um amigo e fazia gestos dizendo que logo iria avistar-se com ela.
Mostrava as roupas em sinal que estava em serviço mas depois, a paisana, iria para sua lanchonete. E fazia o gesto típico com o vai-e-vem do dedo indicador nos lábios. Ele, entendeu que era apenas um “vamos conversar depois”.
A filha, entendendo “Eu já falei que não pode estacionar ai”.
Os parentes a querendo abraçar, o namorado no telefone querendo conversar, a amiguinha da netinha querendo entrar no carro por cima da filha ainda ao volante, a netinha querendo sair do carro, o funcionário querendo se acercar para descarregar, a filha se descabelando ao volante imaginando-se multada…
Naquele dia, chegou tarde em casa. No dia seguinte, depois que me contou, entendi a razão da embriaguez.

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