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domingo, 27 de março de 2011

O QUE É A PEDOFILIA



“O Silêncio é a alma das Agressões Sexuais”Anna Salter

Não se pode falar em pedofilia sem se fazer uma breve referência aos desvios da sexualidade, ou seja às parafilias, perturbações da sexualidade que podem ser constantes ou episódicas, que se manifestam através de fantasias ou de comportamentos recorrentes e que são sentidas pelo próprio como sexualmente excitantes.
As parafilias específicas mais conhecidas são o exibicionismo (exposição dos genitais); o fetichismo (uso de objectos inanimados); o frotteurismo (tocar ou roçar-se numa pessoa que não consente); a pedofilia (foco em crianças prépubertárias); masochismo sexual (ser objecto de humilhação ou sofrimento); o sadismo sexual (infligir dor); o fetichismo travestido (traves-tir-se); e o voyeurismo (observar actividade sexual).
Temos de estar alerta para o facto de que os indivíduos com desvios da sexualidade estão muito atentos ao mundo que os rodeia e, sempre que possível, procuram trabalho em locais ou junto de pessoas que, sem o saberem, lhes proporcionam gratificação sexual.
As perturbações da sexualidade são normalmente crónicas, embora se saiba que podem diminuir com a idade avançada. Supõe-se que algumas fantasias associadas às parafilias, podem iniciar-se na infância ou no princípio da adolescência, mas têm uma expressão mais acentuada durante a adolescência e na vida adulta.
O tratamento das parafilias tem apresentado limitações e muitas resistências. É de salientar que a tão falada “castração química” não é um tratamento propriamente dito, mas sim uma contenção social.
Como já ficou dito, a pedofilia é uma parafilia específica, mas não se sabe ao certo o porquê desta perturbada orientação sexual, conforme não se sabe porque é que há quem prefira pessoas mais velhas.
Sabe-se, sim, que nem todas as crianças que foram vítimas de abuso sexual se tornam adultos abusadores, mas que muitos adultos abusadores foram vítimas de abuso sexual durante a infância.
O termo pedofilia, que há muitos anos é descrito nos manuais de psicopatologia e que só agora entra no vocabulário de todos nós, é, por definição, o acto ou a fantasia de ter contactos sexuais com crianças em idade pré-pubertária (13 anos ou menos) e que o pedófilo tem de ter mais de 16 anos e ser cinco anos mais velho que a vítima. Quem recorre a material pornográfico com crianças deve também ser inserido neste conceito.
Os pedófilos repetem com frequência os seus comportamentos, e tentam justificar os seus actos dizendo que os mesmos têm valor educativo para a criança; que a criança tem prazer sexual, e que são elas quem os provoca ou, ainda, que com crianças não contraem tão facilmente doenças. Os pedófilos, por regra, não sentem remorsos ou mal-estar pela prática dos seus actos.
Os pedófilos podem ser homossexuais, heterossexuais ou bissexuais; casados ou solteiros; homens ou mulheres, e pertencer a todas as profissões e classes sociais.
Os indivíduos que só mantêm práticas sexuais com crianças em idade pré-pubertária são chamados pedófilos exclusivos. Os que, para além dos seus contactos sexuais ditos normais, recorrem ainda a práticas sexuais com crianças em idade pré-pubertária, são denominados pedófilos não exclusivos.
Os pedófilos que sentem uma predileção por crianças do sexo feminino preferem habitualmente meninas com idades compreendidas entre os 8 e os 10 anos, enquanto os que têm preferências por meninos procuram crianças ligeiramente mais velhas.
É comum ouvir-se alguns pedófilos justificarem as suas práticas fazendo referência ao momento em que, eles próprios, foram vítimas. Dizem que, nessa altura, o adulto representava o medo, a angústia, o terror e que nunca mais se conseguiriam libertar dessa imagem ameaçadora. Por isso hoje, nos seus contactos sexuais, preferem as crianças, para não se sentirem postos em causa; é uma questão de poder. Estes indivíduos são por regra imputáveis (responsáveis pelos seus atos) e sabem disso, por isso praticam os seus actos às escondidas.
Tal como acontece em outros desvios de sexualidade, também a pedofilia tem uma evolução crónica, com comportamentos que vão do despir as crianças, a observá-las, ao toque, ao sexo oral, à masturbação, até à penetração.
O traumatismo causado à criança depende não só do tipo de ato a que foi sujeita, mas também da idade que tinha no momento em que foi vítima, e do apoio que na altura lhe foi prestado.
Lembro que, normalmente, o pedófilo procura uma vítima indefesa que, por coação, é por ele silenciada, vítima essa que lhe está normalmente muito próxima, embora possa também pertencer a um espaço exterior à família ou ao seu meio natural (padres, professores, médicos).
Não existe uma definição única do conceito de abuso sexual infantil, no entanto todas subescrevem que se trata de uma das piores formas de violência sobre as crianças.
A maioria das definições de abuso sexual infantil fazem referência a uma multiplicidade de atividades sexuais, incluindo situações em que não existem contactos físicos, propriamente ditos. Deve considerar-se abuso sexual quando se utilizam crianças e/ou adolescentes para a satisfação do desejo sexual de pessoas mais velhas.
São ainda consideradas situações de abuso sexual todas as que vão do telefonema obsceno, até a penetração.
Neste contexto devemos relembrar ainda a questão da Exploração Sexual de Crianças, que está presente quando há uma das seguintes situações: assédio sexual, intra ou extra familiar; prostituição infantil; pornografia infantil; turismo sexual e tráfico de crianças.
Não nos podemos esquecer que um pedófilo é sempre um abusador sexual; mas um abusador sexual pode não ser um pedófilo.
No meu entender, sempre que um adulto utiliza um menor para satisfazer os seus desejos sexuais deve, preferencialmente, ser considerado abusador sexual, e não pedófilo, porque o abusador sexual infantil, vitima crianças de qualquer idade, enquanto o pedófilo abusa de crianças em idade prépubertária.

MANUEL COUTINHO
Psicólogo clínico

O PORQUÊ DO SILÊNCIO…São inúmeros os factores que levam a criança a ocultar o abuso a que foi sujeito, mas destacamos: medo de represálias por parte do agressor; sentimentos de vergonha, culpa, vergonha, e insegurança ou protecção (irmão mais novos); medo dos interrogatórios e da devassa da sua intimidade ou família; exposição pública; estigma social.
Contudo, este silêncio permite que o abuso se perpetue, convertendo-se no pior inimigo do menor e no maior aliado do agressor.
Leva a criança a experienciar um sentimento de culpabilidade que o impede de confiar, de amar e de estabelecer uma relação saudável como futuro adulto.
Assim, é indispensável que os adultos tenham consciência dos sinais e sintomas que podem indicar que o menor está a ser vítima de abuso sexual.

SINAIS E SINTOMAS
A presença de sinais e sintomas, se muito intensos e combinados, devemos alertar para a possibilidade de abuso sexual:
– Mudança súbita de comportamento na escola, incapacidade de concentração, diminuição do rendimento escolar.
– Mudança na personalidade, insegurança e necessidade cons-tante de ser estimulada.
– Falta de confiança num familiar adulto, ou não querer ficar sozinha ou com determinado adulto.
– Isolamento de amigos, familiares ou das actividades usais.
– Medo a algumas pessoas e lugares.
– Excesso de limpeza ou total despreocupação com a higiene.
– Incontinência para a urina ou fezes ou alterações dos hábitos intestinais.
– Pesadelos ou perturbações do sono.
– Interesse especial pelo sexo, inapropriado à idade da criança.
– Retorno à infância, inclusive a comportamentos típicos dos bebés.
– Depressão, ansiedade, afastamento, tristeza, indiferença.
– Auto-mutilação
– Tentativa de suicídio.
– Fuga.
– Problemas de álcool e/ou drogas.
– Problemas de disciplina ou actos delinquentes.
– Actividade sexual precoce (simulações, vocabulário, masturbação, desenho).
– Problemas médicos como infecções urinárias, leucorreias, rectorragias, dor pélvica ou hemorragia vaginal inexplicáveis e recorrentes.
– Dores, inchaços, fissuras ou irritações na boca, vagina e ânus.
Pode gerar a cura ou repetir a exploração e traição. Assim devemos acautelar as seguintes condições:
– Criar um clima de confiança e abertura para com as crianças e seus problemas.
– Mostar que acreditamos. Devemos dizer e mostrar à criança que acreditamos no que está a contar, mesmo que nos pareça estar a fantasiar ou a ocultar informação, sobretudo porque, em muitos casos, a criança procura proteger o seu agressor.
– Apelar à livre narrativa da criança. Procurar observar sinais e sintomas; fazer perguntas abertas, se a narrativa da criança não forneceu suficiente informação (“podes contar-me mais sobre o que aconteceu?”); aceitar a ignorância e o esquecimento da criança sobre o sucedido, é normal acontecer; apelar à importância da verdade; assegurar apoio e discrição.
– Providenciar avaliação médica (centro de saúde/hospital).

UMA PALAVRA DE ATENÇÃO AOS CASOS INTRA-FAMILIARES
Frequentemente, na relação entre abusado e abusador, além de ser poderosa, a figura provedora de cuidados da criança pode estar mais presente e ser mais carinhosa e amorosa do que qualquer outra pessoa na vida da criança. A criança pode assim convencer-se de que se contar o segredo, o seu relacionamento com o abusador e a única pessoa que ama pode ser ameaçado.
Muitas vezes, a criança não consegue tolerar a “maldade” no membro parental e defende -se psiquicamente procurando assimilar a “maldade” e incorpora-a como arte de si mesma. Isto permite à criança ver o familiar abusador como “bom”, e a revelação do segredo pode ferir uma parte de si própria.

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