Os relacionamentos extraconjugais que resultam em tragédias
Em busca de aventura, prazer e dor. Quem é casado e procura um relacionamento extraconjugal não sabe, mas pode, no final de tudo, além de ter a vida destruída, sofrer uma dor irreparável. São inúmeros os casos de pessoas que perderam suas vidas ou até entes queridos por conta de envolvimento extraconjugal
O caso de Lavínia Azeredo, de 6 anos, morta no dia 28 de fevereiro pela amante do pai, levanta a questão do perigo dos relacionamentos extraconjugais. Lavínia, que completaria 7 anos no próximo dia 13, foi encontrada morta na quarta-feira passada (2), num hotel no Centro de Caxias, no Rio de Janeiro. O crime, segundo a polícia, foi cometido pela amante do pai, Luciene Reis, que está presa na carceragem da Polinter de Magé (RJ). Luciene, de acordo com o delegado Robson Costa, da 60ª Delegacia de Polícia, confessou que matou a menina e vai responder por sequestro seguido de morte, cuja pena pode chegar a 30 anos.
A tragédia na vida da família de Lavínia começou por causa de um adultério cometido pelo pai da menina, o que mostra que os relacionamentos extraconjugais provocam sequelas muito mais profundas do que sentimentos de abandono ou da própria traição.
“Quando uma pessoa casada se envolve com outra, ela enxerga com os olhos da paixão. E a paixão é cega, não deixa a pessoa ver quem a outra é realmente. O fato de não conhecer a pessoa a fundo, de ser guiado pelas emoções, pode levar a situações desastrosas ou de tragédias mesmo”, enfatiza a psicóloga Rita Dantas Souza, doutora em psicologia pela PUC e Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Na visão de Rita, quem trai não está só em busca de prazer, e sim de dor de cabeça. “A pessoa que se torna amante tem ilusões e acredita que um dia terá a pessoa amada só para si. Ela fica iludida por promessas ou vantagens e vive seus dias à espera de que a pessoa com quem se envolveu coloque um ponto final em seu casamento e a tome como esposa. Quando ela percebe que, na maioria das vezes, a pessoa com quem está se relacionando não quer desfazer o casamento, pode ter atitudes drásticas e impensadas”, ressalta a psicóloga.
Falta de respeito
Já na visão da psicóloga clínica Roberta Borges, quem trai ou pensa em trair deve estar ciente de que a falta de respeito não é só com o parceiro, mas também com toda a família. “Em vários casos temos visto que pessoas se meteram em confusões ou tiveram suas vidas destruídas por conta de uma traição conjugal. Quem pensa em trair que leve isso a sério, pois pode estar sim colocando em risco a vida de sua família, por conta de 15 minutos de prazer. Já que, quase sempre, quando envolvido com uma terceira pessoa, aparecem sonhos, promessas e o sentimento de posse. E muitas pessoas podem cometer loucuras alegando ser em nome do amor”, diz Roberta.
Diagnosticar previamente se uma pessoa será capaz de cometer uma atrocidade não é fácil. “Em alguns casos, há ameaças, mas é muito difícil prever se essa pessoa será capaz de cumprir o prometido ou aquilo foi dito só no calor do momento”, salienta.
Para quem pensa em trair achando que enfim colocará um fim em seus problemas, Rita adverte: “Não é uma terceira pessoa que resolverá os conflitos. Muito pelo contrário. O casal deve conversar e chegar a um denominador comum. Quem pensa em trair deve observar: se essa pessoa que você namorou, noivou, casou, aos seus olhos já tem atitudes que não lhe agradam, o que dizer então de quem não se conhece bem?”
Rita compartilha da mesma opinião de Roberta, de que quem arruma uma amante pode colocar em risco toda a família. “Quem se aventura em relacionamentos extraconjugais tem que estar ciente dos problemas que podem ocorrer. Hoje, não é mais a mulher ou o homem que sofre, mas toda a família pode ter problemas irreversíveis por conta de uma traição”.
Na opinião da psicóloga, vivemos em uma sociedade onde as pessoas acham que a felicidade reside num relacionamento fantasioso. “Muitos acham mais fácil viver uma fantasia, empurrar os problemas para debaixo do tapete, do que encarar a realidade. Quem quer ser feliz de verdade procura um relacionamento baseado na verdade, na troca, na cumplicidade, não relacionamentos fortuitos, escondidos, que podem provocar dor e sofrimento”.
Casos que acabaram muito mal:
A fera da Penha
Na década de 1960, Neide Maria Lopes foi acusada e condenada a 33 anos de prisão por sequestrar, assassinar e incendiar a menina Tânia, de 4 anos, nos fundos do matadouro da Penha, no subúrbio do Rio de Janeiro. Em 1959, Neide, que estava com 22 anos de idade, conheceu e apaixonou-se pelo pai de Tânia. Quando ela soube que ele era casado, exigiu que abandonasse a esposa e as filhas.
Vendo que o amante não abandonaria a família, adotou outra tática. Aproximou-se da família do ex-amante e conquistou a confiança desta. Um dia, pegou a menina no colégio e ficou andando sem rumo por cerca de 5 horas. Por fim, passou em uma farmácia e comprou um litro de álcool. Levou a criança até o matadouro e a executou com um tiro de revólver. Após, ateou fogo no corpo dela.
Dias depois, foi presa e condenada a 33 anos de prisão. Após cumprir 15 anos, por bom comportamento, ganhou a liberdade. Hoje, vive sozinha na zona norte do Rio.
O goleiro Bruno
Em 2010, um caso chocou o País. O ex-goleiro do Flamengo, Bruno, foi preso acusado pelo desaparecimento de sua ex-amante, a modelo Eliza Samúdio, com quem teria um filho. Segundo a polícia, cansado de ser chatageado por Eliza, Bruno, que tinha uma bela carreira pela frente, tramou o assassinato da modelo. O corpo dela nunca foi encontrado, e ele está preso em Minas Gerais, onde aguarda julgamento.
Médica morta por ex-amante
Em junho de 2010, a médica Glauciane Hara, de 39 anos, foi morta pelo seu ex-amante Rodrigo Fraga, que ela havia conhecido pela internet. Depois de 3 anos anos de relacionamento, Rodrigo, que era casado, resolveu colocar um ponto final no caso. Glauciane não aceitou e chegava a ligar 40 vezes por dia para a casa dele ameaçando sua mulher.
Para se livrar da ex-amante, Rodrigo arrumou outro problema: ele matou a médica a facadas e alegou que cometeu o crime em legítima defesa, pois ele e a mulher estavam sendo perseguidos por ela.
Mudando a história
É importante destacar que existe um caminho para dar outro final a histórias como essas. Não são poucos os casais que já tiveram o relacionamento restaurado após uma traição ou decepção. Se você está passando por uma situação delicada em seu casamento ,lute para vc salvar sua familia.
Casamento por um fio
"Com diálogo e pequenas mudanças de comportamento dá para recuperar o relacionamento"
Quem está solteiro quer casar. E muitos casados, que um dia tiveram a solidão como companhia, cogitam a separação. Se o seu casamento está sem graça e até mesmo por um fio, será que dá para recuperar a relação?
Na visão do psicólogo Alexandre Bez, especialista em relacionamentos, é possível recuperar o casamento que muitas pessoas acham que já deu o que tinha que dar. “Se o casal estiver pré-disposto a recuperá-lo é possível sim, através do diálogo e pequenas mudanças no comportamento,” diz.
Há poucos dias, a recepcionista Tatiana (que prefere não divulgar o sobrenome), de 26 anos, casada há 7 e mãe de um menino de 5, relatava estar vivendo o que vivem muitos casais. “Penso em me separar sim. Meu casamento acabou. Não tem mais graça, química, e a gente não se entende mais”. Ao ser questionada sobre qual seria a real motivação para colocar o ponto final em sua história, ela não teve uma resposta plausível. “Na verdade ele é uma boa pessoa. Mas, coisas do dia a dia, como não ajudar nos serviços domésticos, uma resposta num tom mais agressivo, tudo isso me deixa chateada”, disse.
Assim como ela, muitas pessoas se escondem atrás de motivos tolos para acabar com um relacionamento. E já que nenhum casamento acaba da noite para o dia, o que os casais devem observar para que a relação não desça pelo ralo? “Em 90% dos casos, a culpa do divórcio é das duas pessoas envolvidas e não de apenas de uma das partes. A pessoa deve estar atenta às pequenas mudanças nas atitudes do companheiro (a), e o diálogo é essencial para manter o casamento saudável”, salienta o psicólogo.
Do outro lado da história está o marido de Tatiana, que prefere não se identificar: “Eu não casei para me separar. Me apaixonei pelo jeito carinhoso dela, a alegria de viver. Mas ultimamente ela não sorri mais, está sempre nervosa e eu me pergunto onde está aquela mulher maravilhosa que não me fez pensar em mais nada, do que passar o resto de minha vida ao lado dela?”
“No início da conquista, quando estão se conhecendo, ambos mostram o melhor de si, mas depois esquecem disso”, diz Bez. Os fatores mais comuns que culminam no fim do casamento, segundo ele, são fatos corriqueiros. “Começa com pequenas coisas e a falta de respeito está no topo da lista. Além disso, as mentiras, o mau comportamento, agressões verbais, que às vezes migram para agressões físicas, e a traição, são os fatores mais comuns, que certamente acabam com qualquer relacionamento”.
“Normal é ser feliz”
A secretária F., casada pela segunda vez tem outro olhar para as relações. “Sofri muito no meu primeiro casamento e após a separação fiquei 11 anos sozinha. Primeiro me recuperando, depois, tentando encontrar uma pessoa legal”. A procura teve um fim quando, há 7 anos, ela encontrou o atual marido. “No início é aquela paixão, aquele mel, depois parece que tudo começa a cair na rotina”. Segundo F., chegou uma hora em que ela desejou estar solteira novamente, mas acordou antes. “Era a segunda oportunidade que eu tinha e não podia fracassar”. A secretária então conversou com o marido e juntos decidiram salvar o relacionamento.
“Adotamos alguns segredinhos, como surpreender o outro e voltar a ser como namorados, a valorizar a relação, o companheirismo, a cumplicidade. Muitos casais se baseiam apenas na parte sexual, mas a vida fora da cama também é muito importante”, ressalta.
Na concepção de F., as pessoas acham mais fácil se separar do que batalhar para salvar o casamento. “Muitos dizem que é normal se separar. Normal é ser feliz. E para quem está passando por problemas conjugais eu aconselho a mudar. Eu mudei, meu marido mudou. Ele tem defeitos, mas também tem muitas qualidades, e prefiro olhar para elas”.
Na opinião de Bez, no início dos relacionamentos as qualidades da pessoa amada são elogiadas, mas, na medida em que o tempo passa, o que fica em destaque são os defeitos. “Exacerbar os erros do companheiro tendo como base o desejo de irritar a pessoa, só acelera a deteriorização da relação. Por isso, aconselho a destacar as qualidades da pessoa amada sempre”, diz o psicólogo.
Acomodação
Um dos grandes problemas dos casais é a acomodação. “Seja por causa do trabalho, dos filhos ou qualquer outro motivo, a pessoa já não dá a importância necessária para a relação. A rotina desgasta qualquer casamento. A dica é utilizar a criatividade e bolar surpresas ou situações que saiam do cotidiano. Não é necessário que seja nada muito elaborado, mas mesmo pequenas atitudes são essenciais para manter a chama do casamento acesa”, ressalta Bez.
Foi o que fizeram Tatiana e o marido, os personagens do início de nossa reportagem. Eles decidiram conversar com um pastor e pedir orientação. O primeiro passo foi fazer uma viagem em família. “Parei para pensar, estou buscando salvar o meu casamento e estou vendo tudo com outros olhos após a orientação que recebi. Tenho certeza de que tudo vai dar certo. Estou fazendo a minha parte e meu marido a dele. Creio que a nossa história terá um final feliz. Já houve uma mudança em nossa vida”, revela a recepcionista.
Ela conseguiu reconstruir o casamento
Há alguns meses, na matéria “Como superar um divórcio”, a empresária Maria de Lurdes, de 54 anos, nos deu o relato emocionante de como lutou pelo seu casamento, o que foi extremamente importante para muitas pessoas. Por isso, fomos saber como está o casamento dela hoje, meses após ter adotado algumas estratégias para salvá-lo.
“A melhor coisa que me aconteceu foi eu ter persistido e lutado pelo meu casamento. Estou mais feliz e mais apaixonada hoje do que antes, e espero ter ajudado muitas pessoas a pensarem um pouco antes de optar pelo fim de uma história. É possível reconstruir um casamento e é possível ser feliz, pois eu estou sendo”, enfatiza a empresária.
Maria de Lurdes estava casada havia quase 30 anos, com dois filhos adultos, e, embora não estivesse divorciada no papel, ela e o marido estavam separados e morando na mesma casa como desconhecidos. Ela fora aconselhada por amigas a pedir o divórcio, mas resolveu buscar ajuda espiritual e agiu de outra forma. A estratégia deu certo e uma parte do texto que emociona é quando ela diz: “É visível o brilho no meu olhar, a minha alegria e a felicidade de ter ‘reencontrado’ o homem que sempre amei. Amigas dizem que rejuvenesci, perguntam se fiz cirurgia plástica ou que creme de beleza estou usando. Respondo que fiz uma cirurgia sim, tenho um novo coração e uso um creme chamado amor com pitadas de sabedoria.”
Dicas
O psicólogo Alexandre Bez fala sobre o que é possível fazer para salvar o relacionamento:
1- Observar a relação e o nível de desgaste em que ela se encontra;
2- Levantar as possíveis razões que causaram a situação;
3- Reconhecer os erros e elaborar um “plano” visando a recuperação do casamento. Exemplo: pequenas mudanças de comportamento;
4- Cuidado com a rotina. Fuja dela sempre que possível.
Traições virtuais, consequências reais
Mensagens de internet ou celular que revelem envolvimento amoroso justificam pedido de separação judicial
A tecnologia facilita a vida, mas também tem trazido complicações e literalmente dores de cabeça para algumas pessoas. Se por um lado aproxima quem está solitário, por outro pode ser o pivô de separações.
Para quem é casado e se utiliza do anonimato das redes sociais para flertar ou se envolver com alguém achando que não corre riscos, está enganado.
A troca de mensagens virtuais que revelem envolvimento amoroso evidencia a quebra do dever de fidelidade e justifica o pedido de separação judicial.
“A fidelidade remete à lealdade de um dos cônjuges para com o outro e o descumprimento deste dever ocorre de duas formas: por meio da conjunção carnal de um dos cônjuges com um terceiro (adultério), ou de atos que não revelem, à primeira vista, a existência de contato físico, mas que demonstrem a intenção de um comprometimento amoroso fora da sociedade conjugal (quase-adultério). O simples descumprimento do dever de fidelidade, seja pelo adultério ou pelo quase-adultério, é suficiente para embasar um pedido de separação judicial litigiosa”, diz a advogada paranaense Juliana Marcondes Vianna.
Como comprovar
A infidelidade virtual pode ser comprovada, segundo Juliana, pelas cópias de e-mails e mensagens em sites de relacionamento que estejam gravadas e disponíveis em um computador que seja de uso comum da família e que não exija senha de uso pessoal para o acesso às informações. “Se o computador é de uso pessoal de um dos cônjuges e se para acessar as mensagens se faz necessária a inserção de senha, é preciso que o outro cônjuge autorize o acesso, sob pena de configurar ofensa à garantia constitucional da intimidade e vida privada e a prova ser invalidada. Seguindo estas regulamentações, a apresentação desse material em Juízo é legal e válida”, completa a especialista.
Consequências
Se trocar mensagens carinhosas com alguém virtualmente aparentemente não causam nenhum dano, as consequências são reais sim.
“Os Art. 1578 e 1704 do Código Civil estabelecem que o cônjuge traidor pode perder o direito de utilizar o sobrenome do outro e, se for preciso, pagar pensão alimentícia apenas em valor indispensável para sobrevivência, caso o outro não tenha aptidão para o trabalho e nem parentes em condições de auxiliá-lo”, salienta a advogada.
Em alguns casos onde a infidelidade se tornou motivo de aniquilação da honra do cônjuge ofendido, que implique para ele em dificuldades e abalos psíquicos consideráveis, será possível a reparação pelo dano moral sofrido.
“O cônjuge traidor não será declarado culpado pelo fim do casamento e nem sofrerá sanções específicas na separação por seu comportamento. No entanto, isto não quer dizer que quem sofre com a traição deva amargurá-la para sempre. Se o dano sofrido foi substancial, sua reparação, no âmbito da responsabilidade civil, pode ser avaliada”, finaliza Juliana Marcondes Vianna.
Dor real
A publicitária Ana Flávia, de 27 anos, que prefere não ter o sobrenome revelado, sabe muito bem a dor que uma traição virtual pode deixar. “As sequelas ficam para sempre”, diz. Fisicamente bonita, ela jamais imaginou que o marido fosse procurar outra pessoa na internet.
“Aos poucos, ele parou de sair de casa, ficava muito tempo na internet, mas jamais imaginei que ele estivesse me traindo”, relata. Por trabalhar bastante, só aos poucos ela começou a perceber que havia algo errado.
“Quando ele parou de sair comigo para ficar mais tempo no computador comecei a prestar mais atenção”. Desconfiada, vasculhou o computador de casa em busca de provas e encontrou emails direcionados a uma mulher.
“Foi um choque, uma dor terrível. Ler os elogios que ele direcionava à amante virtual me causou muita dor.” Ela copiou e imprimiu todos os emails e munida de coragem foi conversar com o marido que se esquivou dizendo que a moça era uma amiga. Ao mostrar as provas, ele confirmou, pediu perdão e eles tentaram continuar o casamento.
“Ficamos mais cinco meses juntos, mas não deu. Fiquei insegura. Se ele agradecia a moça da padaria por exemplo, eu já ficava alerta, pois imaginava que se ele havia me traído com uma pessoa na internet, imagina as que via pessoalmente.”
Há um ano, Flávia colocou um ponto final no casamento e diz que está se recuperando, mas acredita que a dor de uma traição virtual, seja tão forte ou até mais do que a real.
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