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domingo, 5 de junho de 2011

Amor Bandido

Apresentando uma realidade muito diferente do que poderia se presumir ou esperar, sem qualquer inibição, que levasse ao impedimento, o sexo feminino continua caminhando rapidamente para o universo da marginalidade. Vislumbrando, portanto, números futuros bem maiores, de mulheres aprisionadas...

Cada vez mais jovens, elas traçam um novo perfil dentro da realidade brasileira.

É inacreditável a quantidade de meninas, que mal acabaram de completar a maioridade e já são donas de longas fichas criminais...

Sabemos que a grande maioria, ainda vem da camada mais pobre (financeiramente falando), no entanto, não chega a ser "privilégio de categoria", nem reflexo da vivência nas grandes metrópoles.


Resolvi abordar um pouco esse assunto, para mostrar, que hoje no País, estamos nos deparando a cada dia, com situações novas, distanciadas de infra-instrutoras, (tanto no aspecto físico, como humano), que vai segregando jovens meninas, destruindo instituições familiares e arrastando devastadoramente pessoas próximas, (que nunca delinquiram) a cárceres, cárceres estes indiretos, sem o mérito do caráter delituoso ou a pretensão social punitiva, entre - grades.

Em setembro de 2010, a convite do Governo do Estado do Acre, DEPEN, IAPEN e Ministério da Justiça, estive palestrando e visitando as maiores Unidades Prisionais da Capital (Rio Branco).

Ocasião em que tive a oportunidade, de efetuar inúmeros contatos com mulheres em condições de pessoas presas, bem como entrevistas e uma vastidão de imagens, que sem duvida alguma, vieram de maneira lamentável nos alertar, corroborando assim, nossas estatísticas, perspectivas, suposições e realidade.

Várias meninas muito jovens, algumas grávidas, e três destas, em fase de aleitamento materno, com suas filhinhas. Encontramos também, mais algumas em período pré-parto, sendo duas destas reeducandas, portadoras de uma série de complicações.

Percebi que especificamente mulheres gestantes ou parturientes, apresentam muitas coisas em comum, além do fato de estarem encarceradas.

Estas similaridades, quase sempre, se mostraram nitidamente na maioria dos estados brasileiros, e de forma assustadora, no que diz respeito:-

- Pouca idade.
- Primariedade, sem antecedentes, nem na menoridade.
- Primeiro delito (leve ou para consumo de drogas) e respectiva prisão.
- Acusadas em parcerias.
- Penas muito altas e mais severas que as dos parceiros nas mesmas ações delituosas.
- infecções na gravidez, transmissão vertical, DST, e HIV.
- Abandono dos familiares, pela distancia ou pela falta de coragem para passarem pelos constrangimentos das conhecidas revistas em dias de visitas.
- Mães solitárias, sem vislumbrarem construções familiares futuras, ou reconhecimentos de paternidades as filhas dos cárceres.
- Presas, levadas pela paixão, ou seja, pelo tão "complicado e questionável"... Amor Bandido!

Foi assim, com LLS, 19 anos, grávida de quatro meses, presa em flagrante delito desde julho de 2010, por ter guardado para o namorado, em sua casa, (melhor dizendo, em seu quarto), um notebook.

Desconhecendo cabalmente ser o objeto fruto de furto ou roubo, a jovem, que nem teria acesso à internet, por zelo ao equipamento (que acreditava ser o primeiro investimento do companheiro, á ser posteriormente vendido para compra do enxovalzinho do futuro bebe que espera), o guardou cuidadosamente junto aos seus pertences.

Tive acesso aos autos de prisão em flagrante e nota de culpa da jovem LLS, onde constatei a veracidade de sua história. Entendi, que de posse de um mandato judicial, expedido pelo Ilmo Senhor Juiz de Direito da Comarca aonde LLS encontra-se detida; policiais adentraram a residência de nossa personagem da vida real e rapidamente encontraram a *res furtiva.


Mesmo estando o equipamento intacto, devolvido ao dono de fato e de direito, sem o reconhecimento da vítima quanto à autoria ou participação da ora acusada na ação delituosa, LLS, foi presa em flagrante delito.

Casos semelhantes ao de LLS ocorrem com outras mulheres, e estas, nas mais diversas regiões brasileiras com absoluta frequência.

Assim sendo, também no estado do Acre, muitas situações, não são diferentes!

Igualmente ao ocorrido com LLS, que talvez por ingenuidade ou uma grande fatalidade, foi presa em flagrante delito, indiciada, recambiada a uma unidade prisional, (em estado gravídico), e denunciada, não por furto qualificado *Artigo 155 do Código Penal(CP), mas, por outro artigo, (mais grave)... Artigo este, que poderá em caso de condenação, submete-la a pena mais pesada...
No Brasil, há milhares de mulheres acusadas e denuncias em condições idênticas a de LLS.

Tal circunstância se deu, em razão das informações apresentadas no relatório da policia, que neste caso, indubitavelmente, pecou cruelmente.

Sem ouvir testemunhas, nem efetuar as devidas investigações e respectivas diligências, quando havia campo para tais procedimentos, no entanto, ignorados e descartados. Fornecendo-se, precedentes, para que o Digníssimo representante do Ministério Público pudesse denunciá-la de forma minuciosa, e completamente específica, baseando-se apenas nas poucas provas apresentadas quando da fase de inquérito policial, no entanto, com pleno amparo legal, desqualificando o Furto, para Roubo Art. 157.

Com outra qualificadora, tornou-se abrangente a acusação, permitindo que o Digno Promotor de Justiça, pudesse acrescentar em sua peça acusatória, outros artigos, que são **Agravantes e de importante relevância, para Prolatação de Sentença.
Os aqui chamados **Agravantes, podem representar ****Aumento de pena, se esta for condenatória.

Nota Um da Editora com descrições, abaixo relacionadas

* Conforme discorre com total conhecimento da matéria, e expõe cristalinamente, delineando com cabal propriedade o Delegado *Dr. João Romano Da Silva Junior :

- "O inquérito policial tem valoração que transcende à materialidade e indícios suficientes de autoria idôneos à eventual propositura de ação penal por parte do Parquet ou do ofendido, isto é, não se esgota nessa fase, mas antes, o que nele foi amealhado é transportado para a própria fase processual". - Continua: -

- “Assim, a não ser que precitado dispositivo seja revogado ou declarado inconstitucional, por algum fundamento de ordem política, como muitas vezes acontece, o inquérito policial também tem natureza probatória, e não somente informativa.” - Ainda mais:

- “Ora, todas as provas têm valor relativo, e com relação ao inquérito policial, se passado pelo crivo do contraditório e da ampla defesa fica ainda mais robusto, e se não passar, nem por isso deve ser desconsiderado”.
- E, finaliza:

- “Porque no moderno sistema processual a confissão não é o móvel da investigação, e nem buscada como na Idade Média e no Estado policialesco, em que se fomentava a tortura aos investigados, julgamentos viciados e flanco aberto para injustiças de toda a ordem. Ademais, porque o policial comprometido e eficiente deve ser conhecedor de técnicas de investigação, pautar-se na ética e no profissionalismo. A truculência é artifício do policial preguiçoso, amador, e do que oculta a própria ignorância. ”
Leia no rodapé*

Por não ter participado de nenhum ilícito penal, nem contribuído para o crime, obviamente, que LLS, não sabia a proporção do caso e acusação que lhe é imputada. Desconhece a vítima, e nem consegue imaginar como fora efetuada a subtração do equipamento. Portanto, nada pode esclarecer á Justiça, estando em preces, resta-lhe manter-se fervorosa em suas orações.


 LLS - LLS, 19 anos, grávida de quatro meses, presa em flagrante delito desde julho de 2010, por ter
























No Estado do Acre, também pude ouvir relatos de mulheres que se assemelham ao caso de LLS.

Um destes casos é o de RCS.

Não tão jovem quanto LLS, nem acusada pelo mesmo delito, falamos de maneira compacta da história de RCS, "contada por ela", para que possam perceber o que há "em comum" nesses dramas...

RCS, assim como LLS, foi presa em flagrante no mês de julho de 2010, ou seja, dois meses antes da minha visita ao Estado do Acre.

Esta ”coincidência” não é a única semelhança entre nossas duas reeducandas, que com inúmeras similaridades percebidas em suas histórias, reforçam a tese da "outra e nova tendência," ou melhor, dizendo: - "a existência gritante de um novo perfil, que nasce célere, de forma crescente e cada vez mais, se apresenta em meio àquelas que ingressam e integram á massa carcerária atual, do sistema prisional feminino."

As similaridades das mulheres em condição de pessoa presa e que atualmente têm afetado qualquer região do Brasil, atinge não só uma camada da sociedade, mais sim, todas as classes sociais.

Em relatos e desabafos, RCS, me contou ser separada e mãe de um casal.
Sua rotina era passar a maior parte do tempo se dedicando às costuras. Nessa ocupação, ela não tinha um salário fixo, ganhava conforme a produção, ou seja, por peças fechadas com costuras, trabalho este, para uma fábrica de camisetas, que por pagar de acordo com a produção entregue, lhe obrigava a perder noites costurando.

Algumas vezes, RCS, era chamada por clientes antigas, e quando isso ocorria, ela ia alternando as costuras com as esporádicas faxinas em casas de famílias variadas, o que lhe permitia, embora raramente, aumentar um pouco a renda domestica.

Sem ajuda, nem tão pouco noticias do ex-marido, RCS só pensava em trabalhar dia e noite, a fim de garantir um mínimo do sustento de seus filhos...

Vida pessoal há muito já não tinha, até o dia em que os proprietários da casa em que morava, resolveram aumentar o aluguel daquele pequeno espaço que vivia com as crianças, lhe forçando a dobrar a carga horária já pesada, fazendo com que cumprisse sacrifício ainda maior, naquela máquina de costuras.

Sentindo-se debilitada, e percebendo não ter a mesma disposição, seu rendimento caia e o desespero aumentava, até que uma pessoa conhecida lhe perguntou se sabia de alguém que tivesse um quarto para alugar, uma vez que um sobrinho dessa pessoa estaria vindo da cidade de Feijó, (interior do Acre) para trabalhar, porém, não queria, nem poderia no início, pagar apenas por uma casa inteira.

A fim de economizar, o "tal sobrinho" necessitava de um local, que tivesse como diminuir despesas, tendo alguém para lavar e cuidar de suas roupas, com oportunidade de fazer suas refeições.

Assim, de imediato, RCS, não só se interessou como desocupou o que chamou de - "barraquinho de tranqueiras" situado no fundo do pequenino quintal. Ela estaria vislumbrando com esta história, sua grande oportunidade de trabalhar menos, sem dever tanto, nem permanecer com tantas necessidades junto aos seus filhos.

O tempo foi passando...

Com a convivência, RCS, se aproximava cada vez mais de seu indireto e "clandestino inquilino". Ela percebia que:

- ..."ele era disposto, esforçado e corajoso! - Sei lá viu? Eu só via aquele homem agitado, era sempre dia de novidade, o tempo todo, parecia festa, cheio de gente transitando e de muitas movimentações, que não nego, me alegrava também!"

- Bem entusiasmada, RCS me contava, enquanto eu anotava os detalhes, para transcrever na íntegra. Mas, dando continuidade ao seu relato: -

- "Também pudera, com tanto entra e sai, sem horários regulares e muitas vezes, me acordando com as barulhadas das andanças e cochichos no quintal, e isso tudo, de madrugada! - Como é que eu não ia prestar atenção nele? - Quem é que não percebe o jeito eufórico de alguém assim? - "Oia", eu nunca fiquei "di conversinha" com ninguém, nem ouvindo viu? - Nem "nunca futriquei nas coisa dosotro", não quero que você fique com impressão errada, pensando que eu sou "fofoqueira", mais é que as coisa dele, não dava pra fingir que ignorava mesmo... - Justificou!

- Tinha algum "negócio nele", que "nemim", chamava a atenção e eu te juro que tava gostando! - Sabe "mia fia"... Eu achava que era o jeito dele de ser e isso era de nascença. - Todo aquele carisma, fazendo amigos, pra mim era um sujeito muito bom... - Se fosse você, não pensaria assim também? - Eu não acho que to errada de ter visto as coisas desse jeito, você não acha?"


- Conclusiva RCS, falou bastante, e em seus comentários, vinham questionamentos, que nada pude optar, pois o que ela mesma, perguntou, também respondeu!


Tive a impressão de que ela tentava mostrar-me, que o "tal sobrinho da conhecida, e seu inquilino clandestino", era hiperativo e isso lhe chamava a atenção de forma diferenciada.

Pois bem, entre a proximidade, amizade firmada, atenção que o "inquilino" lhe destinava, a forma carinhosa que se dirigia uma ajudinha a mais, às vezes até com direito a uma mistura especial, (carne de primeira ou galinha) conforme contou RCS, afirmando que sua carência era tanta, que tudo veio "à tona"...

Quando percebeu, já estava totalmente envolvida e completamente apaixonada! No entanto, não firmaram qualquer compromisso, mesmo porque, RCS, não queria que seus filhos soubessem, e tinha pavor que algum vizinho pudesse comentar algo.

Assim, ela descreveu esta relação como um "namorido colorido", onde o inquilino clandestino era seu namorado ás escondidas; marido nos eventuais encontros ás escuras; parceiro de muitas madrugadas, e ambos, não tinham que dar satisfações um para o outro.

- "Viver isso dessa forma, me fazia um grande bem e era bom demais! - Te juro, eu voltei a me sentir viva, uma nova pessoa, uma mulher de verdade, e ainda "por cima", bem vaidosa. Ninguém precisava prestar contas de nada, e quando rolasse, rolava de boa! Eu estava definitivamente realizada e feliz, pra mim, bastava..." - Confidenciou RCS.

Essa situação durou quase dois anos, nessa época, RCS, percebia que não andava bem de saúde, e sentia que o seu "namorido colorido", se transformava em outra pessoa, vivia irritado, estava cada vez mais estranho, chegando a ser violento... Sendo que em duas situações, chegou ao extremo, agredindo-a fisicamente.

Ele, já não era tão assíduo, nem mais presente, o que não deixava de ser também um alívio para ela...

RCS, disse-me, que o distanciamento passava a ser algo positivo, muito melhor ficar longe, pois, contou-me também, que havia adquirido um medo incontrolável dele e de suas reações. O relacionamento estava tão doloroso para ela, que até falar com o seu "inquilino clandestino", era "missão árdua e difícil", portanto, evitava ao máximo... Mesmo porque, na ocasião, RCS, encontrava-se visivelmente abatida, com a saúde abalada, e até mesmo encontrar com seu parceiro, ex grande amor e atual agressor, afetava seu lado emocional de maneira negativa, dando-lhe sensações ruins, que pareciam agravar seus problemas de saúde cruel e vorazmente.

Certa tarde, (julho de 2010) RCS, e seus filhos, foram surpreendidos pela visita nada agradável de uma equipe de policiais, que adentrando sua casa, passaram a "dar geral".
ContinuaçãoParte 2

- "Eles me disseram que tinham recebido uma denuncia anônima, mais eu não liguei, embora tenha ficado muito nervosa. - Eu nunca fiz nada de errado! Não devia nada pra ninguém... Quer dizer, devia sim... Mais era pouco, só na quitanda e na farmácia! Não tinha nada para me denunciarem, ainda mais de forma anônima!

A tristeza maior foi quando eles começaram a gritar comigo na frente dos meus filhos...
O menino, eu "até consegui despistar"... Pedi pra ir buscar uma xícara de açúcar na vizinha, e ele foi agora minha menina... - "Aiaiaiaiai"... - Essa, nem sei te contar...
- RCS, deu um suspiro, fez uma pausa, enxugou os olhos, e continuou:

- Eu choro só de falar, e sempre quando lembro fico revoltada, envergonhada, com dó de tudo, principalmente da minha filha! Sei que ela não esquece nada do que aconteceu, nem vai esquecer nunca! - Agora, imagina a vergonha, uma mocinha, sem saber de nada... - Embora seja mais velha que o irmão de 10 anos, minha menina só tem 14 anos..." - Revelou em lágrimas RCS, - acrescentando:

- "Depois de tanta bagunça, e retração, finalmente o grande susto, que se transformou em tormento! Eles encontraram algo, debaixo do sofá lá do barraquinho de tranqueiras. O negócio estava guardado na espuma do fundo dentro do forro.
- Sabe o que tinha e os policia, acharam? - Maconha... - É "mia fia", isso mesmo...
- M-A-C-O-N-H-A de verdade! - Eu disse que não sabia, só que eles não acreditaram...
- Lamentou!

- Mas, também pudera, eu não tinha nem como provar nada naquelas alturas, nem tão pouco, podia dizer que tinha um inquilino clandestino morando lá.
No fundo, eu fiquei com mais medo, porque uma vez, me disseram que eu não podia alugar nada, como eu aluguei o barraquinho de tranqueiras e, que eu podia ser até processada!"
- Enfatizou.

- "Fora isso, vou te contar um segredo, lá no meu íntimo, eu também não queria sair de "fofoqueira, nem ser alcaguete" de ninguém, quem dirá, dele... Só de imaginar, me dava mais pânico ainda! - Exclamou entristecida RCS.

- "Agora, por conta de tudo isso, só fico com a imagem da minha menina na cabeça. Me doi demais, lembrar que aquela pobrezinha, viu e ouviu tanta coisa... Sofreu e tem sofrido tanto e é tão criança! Ainda "dimenor"! - Que tristeza, que desgosto de mim mesma... - Fico me perguntando, como pude ser tão burra e me deixar ficar tão impotente? - Olha o resultado aí, fiz sofrer meus filhos e me danei, acabando com tudo de bom!
- Afirmou, e finalizando disse:

- O fato é, que por terem encontrado a maconha, mesmo estando do lado de fora, no barraquinho de tranqueiras do quintal, ainda assim, era na minha residência, e por ser a única responsável pelo lugar, não tendo mais ninguém na hora, pra sequer falar alguma coisa por mim, ou me defender, já viu né? - Por ser tão fraca, cheguei aonde cheguei... No final das contas, como só tinha eu por lá, eu é que fui..." - Pontuou RCS.

Após este decisivo e lamentável episódio, o filho de RCS, passou por sérios problemas de saúde. O menino esteve na UTI, internado e em estado grave! No entanto, bem assistido, e recebendo especial cuidado pela equipe médica que o socorreu e tratou, juntamente com o amparo dado por uma vizinha da família, que comovida, passou a cuidar das crianças, agora, ele está se restabelecendo.

A filha de RCS, também cuida do irmão, nunca foi visitar a mãe, até porque RCS, não quer! RCS me disse que aquele lugar, não é para criança entrar, ou fazer visita. Ela contou ainda, que mesmo que quisesse ou autorizasse que os filhos fossem vê-la, não teriam com quem entrar, pela menoridade. No entanto, isso foi suposição logo descartada, pois de acordo com sua versão, RCS não permitiria expor ainda mais seus filhos, principalmente a filha, ainda tão criança...

Nota Dois da Editora com descrições, abaixo relacionadas

RCS, fora presa em flagrante delito, acusada (pelo que elas chamam de 33*) ao fazerem referência ao tráfico de drogas. Porém, (não é o artigo 33 do C.P.), mais sim, o da Lei nº 11.343 que trata do crime de tráfico de drogas. 33* Leia no Rodapé

Sem defesa na hora de sua prisão, assinou tudo o que lhe foi colocado á frente, mesmo porque, mal sabe ler...

RCS, após o auto de flagrante, foi recambiada para a URFF, estabelecimento prisional situado dentro do antigo complexo Francisco de Oliveira Conde.

Ela não sabe o que lhe espera, nem o tempo que ficará na prisão, mas, sabe da angustia de passar as horas sem o toque, um carinho e os abraços dos filhos.

Já o "Inquilino Clandestino ou Namorido Colorido", seu grande ex Amor Bandido, e posteriori agressor, desapareceu sem deixar rastros, sinais, nem vestígios!

Amor Bandido 2 CASO de RCS


Agora, abandonada, RCS, doente, (esta com TB) com medo de se definhar dentro de uma cela fria de prisão, estando sozinha, chora e vive em promessas e preces. Ela não pode prever o que irá ser de seus filhos na sua falta, ou mesmo no futuro, desconhece quando será julgada, se desespera quando afirma estar pagando pelo crime que não cometeu! Mais, seu maior temor, é não ter tempo para dar um último afago em suas crianças...

Pela frequência, em que tem colocado sangue pela boca, (confirmado pelas próprias parceiras), que também me disseram, que além de não serem poucas às vezes, a quantidade de sangue tem aumentado, (e isso, assusta todas...) ela já é ciente de que não esta mesmo bem!

No entanto, RCS, com a voz embargada, e as mãos trêmulas, olhando firme pra mim, através dos espaços de ferro, que nos dividiam, pude sentir a profunda dor daquela mulher!

Estando nós duas encostadas na boqueta de uma cela (cela esta, destinada á acusadas, que estão na condição de pessoas presas provisoriamente), onde, mesmo separadas apenas por grossas grades amarelas, consegui estar do mesmo lado.

Não deixei de pensar o tempo todo naquele... Carma talvez?
Tentando inverter as posições, me colocando hipoteticamente” naquele universo escuro, degradante, em condições deploráveis de sobrevivência, lugar onde o filho chora e a mãe não ouve...” Mas, não consegui!

Naquela prisão, ou em outra qualquer, é o lugar onde - "Os olhos são a única janela da vida e da Morte"...

Mesmo sabendo ser assim, já que prisão é sempre prisão, estive muito longe de deduzir sentimentos, ou supor comparações! Na verdade, nunca dá para se ter nem o mínimo referencial, do que uma mulher nestas condições sente...
Porém, naquele momento específico, talvez pela doença, o aspecto físico, a história, enfim, pelo todo, pra mim, foi impossível imaginar na real essência, o que pensava, queria, sentia, precisava, de fato àquela alma tão perdida...

Embora sejam incontáveis os casos que já acompanhei, presenciei, atuei e tomei conhecimento, alguma coisa diferente, pude sentir, diante de RCS...
Algo que me despertou, e não bem o que, nem sei o porquê, mas, certo o é, que não sai da minha cabeça...

O que sei, é que RCS, só pede a Deus, para tirá-la "em tempo", daquele lugar, pois, não pode se conformar, nem tão pouco aceitar, que tanto amor ofertado a outro, fosse retribuído com uma sanção desmerecida e sem qualificação pela vida.
RCS, disse que sofre ainda mais, em pensar que numa prisão, se pode ir morrendo aos poucos...

Para ela, o fator agravante, vem do tempo, da maneira cruel, que seu decorrer vai judiando, ela diz ter a impressão de sofrer cada vez mais, a cada minuto que passa.

Como se o tempo tornasse as dores cada vez maiores, acelerando os sofrimentos, RCS, diz ser o tempo o verdadeiro carrasco... Um famigerado punidor, inventor do castigo maior, pois, para proporcionar toda e qualquer experiência aversiva, que traga infelicidade, (como a evolução de uma doença, por exemplo), o tempo anda velozmente, e vai definhando um ser humano, minuto a minuto...

Tempo este, que consegue voar para agravar doença e dor física, mais que sabe também não passar, quando é para torturar pessoas sentenciadas. O tempo cruel legislador, mensageiro da infelicidade, que consegue fazer uma longa pausa na vida sem explicar o porque que a felicidade se foi...

Tempo, que consegue pesar severamente, mostrando que as horas dos dias não passam, quando trata-se apenas de pena a ser cumprida, então caminha cada segundo, mais lentamente.

Inconformada, me disse que pede muito para tirar a mágoa do coração, mais não sabe se um dia perdoaria seu Amor Bandido, pois graças a ele, ela se sente cada dia pior, como se estivesse morrendo de forma célere, sentimento este, que jamais pensou que um dia pudesse sentir.
Assim como a evolução de sua doença a lhe possuir, (que frisando em prantos, confessou que algo parecido, é coisa que nunca ousaria atrair, nem negativamente, imaginar), RCS, estabelece comparações entre as dores físicas e o sofrimento provocado por um Amor! (...)

Retornando ao Caso de LLS e desfecho dos casos de Amor Bandido 1 e 2


Já em nosso outro caso, retomando a historia da LLS, o pai de seu filho e muito provável, ex-namorado/companheiro, logrou êxito em fuga, deixando para trás, a mãe do seu futuro filho.

Por toda a escassez de recursos, falta de defensor que acompanhasse seu interrogatório na policia, sem advogado constituído para impetrar defesas, se alimentando de forma totalmente inadequada e notoriamente deprimida, LLS, aguarda os tramites de seu processo, tendo como única e grande preocupação, mais que também confessa lhe servir de acalento, (assim como RCS), o filho, o bebezinho que ainda carrega em seu ventre.


LLS, sabe que se seu caso não for julgado rapidamente, ou se for submetida à condenação, terá pouquíssimo tempo com o filho que espera, (no máximo seis meses, que é o tempo que a lei determina), no entanto, não deixa de lado a Fé, a esperança e o sonho de ser a melhor mãe do mundo.
Como ela mesma diz: - "Aprendi de forma dolorosa, que não há amor maior que o de uma mãe por um filho. Arrependo-me de não ter escutado meus familiares, quando alertavam sobre minha relação problemática e a fixação que eu tinha cegamente naquele que me colocou aqui... Agora, me resta apenas conseguir lá na frente, o perdão dos meus pais, carregando a vergonha que sinto e sempre irei sentir... E continua...

- “Se eu pudesse voltar no tempo, jamais permitiria que um cara bonitinho me dominasse. Fui conivente ao consentir que ele fizesse a minha cabeça, me tornei totalmente dependente de uma paixão doentia, que surda e cega, não me deixou perceber que eu estava errando. Enganei-me ao priorizar um sentimento que nada mais era, do que minha rebeldia para com a minha família. Hoje, tenho uma vida que depende de mim e sei na pele, que um Filho é sempre da Mãe... – Enfim, destaca:

- "Nada do que fiz, poderá servir de exemplo, mais uma coisa é certa, tudo o que eu vivi e estou vivendo, poderá sim, ser uma referencia para que outras garotas não se deixem levar como eu me deixei. - Quem sabe, eu contando a minha historia, eu consiga algo de positivo, ou até mesmo libertar algumas mulheres, das garras de um famigerado Amor Bandido." Emocionada, finaliza.


Enquanto LLS contando os dias, passa as horas sentindo naquele horrível e limitado espaço, sua barriguinha crescer, seriamente reflito e busco respostas, que dentre tantas perguntas se perdem... Talvez sejam as buscas destas respostas, ou mudanças de posturas, que me motivaram a compartilhar com vocês nossos leitores e amigos, estes dramas.

E como dizem: - “O amor não tem lei”...

- Quem sabe, se neste momento outras meninas, mulheres, enfim, não são arrastadas para o lado errado da estrada?
- Quem garante que a forma muitas vezes imperceptível, não é o alimento de uma paixão doentia ou mesmo um possível "Amor Bandido"?

Pois, nestes dois casos, e em tantos outros, um “Amor” ergueu muralhas...
Muralhas estas, que interromperam sonhos, cercearam liberdades, finalizaram historias, destruíram famílias... Algumas Muralhas com Poder...
- Poder Paralelo...

Muralhas, transformadas em submundo... Monumentos construídos por um equivocado Amor...

Muralhas, que limitam espaços, reduzem vidas, tornando incontáveis mulheres apaixonadas, em insignificantes seres vivos e inertes...
E este Amor, ("Amor Bandido") que cria alicerces, sem se opor nem cansar, e que planejado cuidadosamente, vai se permitindo, se validando, se reforçando, se erguendo, se fortalecendo, para que outros muros, possam em razão deste, também serem erguidos... Erguidos pela possessão, desonestidade, falta de valôres, violência, imdiferença e desumanidade de um "Amor Bandido".

E assim, movida pela emoção, dominada pela paixão e ensandecida pela ilusão, algumas mulheres deixam se levar, permitindo a ousada ação do vilão. Nessa historia em que o anti-herói, para ela, jamais será um vilão, (apenas o incompreendido), seu eterno e grande Amor fortalece e aumenta! – “O vilão morde a mão que o afaga, e beija o pé que o esmaga” . Mais nem sempre se percebe...

- Mas, quem pode convencer aquele que já está convencido?
– Quem pode contrariar aquele que se sustenta e respira, pelo amor e para o Amor? (...)

Amor este que destrói, mais também constrói... – Constrói Muralhas!

Muralhas que jamais vão alimentar ilusões, que criam sentimentos desconexos, farão marcas, deixaram cicatrizes. Muralhas construídas por um Amor para lhe transformar, tirando a liberdade, tornando seu amor em profunda dor, que jamais irá se apagar...
Muralhas erguidas pelo dolo impiedoso de um falso Amor, Muralhas erguidas para aprisionar, trazer dor, arrebatar.

Castelos de Sonhos, transformados em Muralhas, que jogam sentimentos e vidas em abismos, tornando gélidos caminhos a percorrer, percursos pelas penumbras e labirintos sem fim. Muralhas erguidas por um amor, fazendo da amada a Bandida, não deixando escolhas, nem opções, em total desamparo, onde do amor, restam às sobras...
Sobras que subtraem sendo fruto do submisso amor sagrado, sedento, cuidado, cultivado, que leva a mulher santa, á condição de bandida. Sobras que somente os aramados serviram de adornos e os concretos, confidentes a escutar, onde Deus parece estar distante...
Lugar que parece que nem Deus quer ir, e...

- “Aonde Deus não vai, o diabo é rei”...

E da sobra que ainda resta, de um Amor Bandido, fica o cárcere, seu espaço, único confidente... Neste resto que é a sobra do Amor Bandido a perpetuar, ficam suas dores, que as grades de ferro irão conservar, resguardando seu corpo, e acolhendo seu destino, até quando Deus for até lá, ou assim, determinar.

Sou pela prevenção e sem sofrer por antecedência, penso e atuo acreditando que sempre a tempo de se resgatar quem indecisamente está perdida ou na incerteza de qual é a rota certa a seguir, pois, são muitas as bifurcações desta estrada, chamada vida.


Créditos imagens, e Reportagens por Elizabeth Misciasci

Acesse a Parte 1 início – Caso da Jovem LLS

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