Páginas

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Homem com pegada(Eles existem ou são invenção das mulheres?)

Esta semana eu deixei de lado a minha costumeira auto-suficiência e saí perguntando a um monte de mulheres sobre o significado da palavra “pegada”. A razão da curiosidade não poderia ser mais mesquinha. Pegada é uma palavra misteriosa, que a apenas as mulheres usam. Os homens, além de não entender, sentem-se um pouco ameaçados por ela. Pegada parece um atributo importante, quase inalcançável.

Tendo pesquisado do outro lado da fronteira sexual eu trago uma boa e uma má notícia. A má é muito simples: se você tem pegada, já deveria saber. Se está em dúvida é provável que não tenha. É drástico, mas parece ser assim.

De acordo com as mulheres, pegada é uma virtude intrínseca, uma daquelas coisas como simpatia, carisma ou covinhas com as quais você nasce ou não nasce. E que as mulheres, segundo elas mesmas, identificam de forma instantânea a inapelável. O sujeito entra na sala, passa a mão pelo cabelo, olha para elas “meio de cima” (embora possa ser baixinho) e... “nossa, esse cara tem pegada”. Em tradução livre, isso parece significar “vem cá me pegar, vem.”

Como eu disse, essa era a má notícia.

A boa é que não há, entre as mulheres, o menor consenso sobre como a pegada se manifesta e quem são os seres humanos que têm o privilégio de carregá-la. Fale com 10 mulheres diferentes (ou 13, como eu fiz) e você terá um número igual de explicações minuciosamente contraditórias de cada uma delas – embora haja um aspecto de consenso, imensamente favorável aos homens normais. Começo por ele.

Pegada parece nada ter a ver com aparência e parece se manifestar em qualquer estilo. Você pode estar barrigudo e ser careca e isso em nada vai alterar sua pegada. Pode ser coxinha ou usar barba por fazer. Até o jeito viril, que os homens sempre consideraram um acessório básico de personalidade, algumas mulheres relevam inteiramente. “Tem homem com jeito feminino e muito pegada”, me disse uma delas.

Toda vez que eu duvidei do desapego delas pela aparência, elas me encheram de exemplos. “Você se lembra daquele fulano horroroso? Eu queria casar com ele!!”. Ou então: “Você não conhece o meu marido”? Conheço, ok, entendi. Lembro da garota que me deu inspiração para esta coluna gesticulando, irritada, no meio da rua: “Ficam falando de bunda e coxa de homem. Nada a ver. Homem tem de ter p.... e pegada”. Perceberam a importância binária do negócio?

Pondo de lado a aparência, o resto das explicações sobre a pegada é pura confusão.


Saiba mais
Para algumas mulheres, pegada é coisa física. É o sujeito que sabe segurar uma mulher na hora da transa ou beijar na boca de um jeito vigoroso. “Mão mole e beijo mole não dá”, elas dizem. Parece claro? Não é, pois uma boa metade das mulheres jura que pegada se manifesta antes do toque. Tem a ver com o jeito de olhar “de quem não quer coisa boa”, a postura corporal, a atitude segura e faminta.

Alguém vai dizer que as duas coisas se complementam, mas eu acho diferente. Minha impressão é que a pegada física é um atributo real, que deriva de experiências de prazer feminina. Uma atriz americana disse uma vez à revista Esquire que o sujeito que transa bem é o como o cara que guia bem: ele tem mãos firmes, é atento mas relaxado e demonstra precisão e segurança nas manobras. Claro, sabe aonde quer chegar.

A outra definição da pegada, aquela subjetiva, vem do terreno da expectativa. No fundo ela é uma fantasia de sedução que varia de mulher para mulher. Uma delas me disse que um homem com pegada é, ao mesmo tempo, “decidido e delicado”. Achei bonito. Outra me garantiu que o sujeito com pegada é, evidentemente, um insolente – e que isso é muito bom. Elas estão falando de homens diferentes, não estão?

Quando se pede, como eu pedi, que elas apontem caras com pegada, a coisa fica ainda pior.

Primeiro, por causa da pudicícia das mulheres. Elas são capazes de falar meia hora de sacanagem hipotética, mas, quando você pede um nome, um exemplo, um cara que os dois conheçam, elas travam. “Ah, não sei...” Pura encenação. Sabem sim, mas têm vergonha de falar.

Depois de muita insistência, dão um nome. Aí você submete o nome à próxima entrevistada, que também conhece o cara. “Fulano, aquele escroto? Imagina. É um troglodita”. Você arranca um nome dessa e o apresenta à próxima mulher, que reage com uma risada: “Sicrano, só se for para adotar”. Quem entende essas donas?

Posto isso tudo, eu tenho uma conclusão essencialmente otimista em relação à pegada: a percepção dela é totalmente subjetiva e varia de mulher para mulher. Sobretudo, depende da relação que elas estabelecem com o homem. O olhar faminto do cara em quem elas estão interessadas é um convite irresistível. Daquele escroto ali do lado, talvez seja o caso de chamar o segurança. Isso se aplica a todo o resto. Dependendo de quem venha, as mesmas coisas podem ser adoráveis ou odiosas.

Logo, cidadão, anime-se: você pode ter pegada nenhuma com uma mulher e ser o rei da pegada com a outra. A morena talvez ache você um gordinho falador, mas a loira que trabalha do outro lado da sala morre de rir das suas piadas. Logo, não se intimide. Não tente agradar interpretando o personagem que elas supostamente apreciam. Elas, como nós, não sabem muito bem o que querem. E talvez queiram você.

Nenhum comentário:

Postar um comentário