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domingo, 14 de novembro de 2010

Violência Escolar - Tem Jeito isso?



Casos de violência dentro das escolas têm eclodido com frequência e ganhado destaque no noticiário. Nesta semana, professores da Escola Municipal General Humberto de Souza Mello, no Maracanã, zona norte do Rio de Janeiro, denunciaram que a diretora fora vítima de agressão e ameaçada de morte, por alunos e moradores do Morro da Mangueira. Em depoimento, a diretora negou a agressão, mas confirmou as ameaças.

Para a antropóloga Helena Sampaio, doutora em Ciência Política e membro do Núcleo de Pesquisas sobre Ensino Superior da Universidade de São Paulo (USP), casos como este eclodem impulsionados por fatores como indisciplina e pelo enfraquecimento da escola enquanto bem público. “Regras e limites podem dar credibilidade e reconstruir a ideia de esfera pública, de bem público. Se restaurarmos a disciplina escolar, esses casos podem diminuir”, afirma.

É preciso também separar os fatores causadores da violência para não cair em generalizações, destaca Helena. “A generalização ‘a escola pública está mais violenta’ apenas deprecia e faz a instituição cair cada vez mais em descrédito.”

Confira a entrevista da antropóloga concedida ao iG Educação após a palestra “Desafios do século 21: alargar fronteiras e aprender respeito”, realizada no Sindicato dos Professores (Sinpro-SP) na ultima quinta-feira.

iG: Como você analisa os recentes casos de violência dentro das escolas?

Helena Sampaio: Acho que os casos de violência são problemas de indisciplina. Os atiradores americanos (que cometem homicídios em massa nas escolas) são outro problema, é quase uma patologia social, por serem recorrentes. Aqui precisamos isolar os fatores causadores da violência para analisar. Claro que a sociedade está mais violenta, mas quem está agredindo? A violência é resultado do uso de droga? A generalização “a escola pública está mais violenta” apenas deprecia e faz a instituição cair cada vez mais em descrédito. Regras e limites podem dar credibilidade e reconstruir a ideia de esfera pública, de bem público. Se restaurarmos a disciplina escolar, esses casos podem diminuir. “Regra”, “norma” e “limite” viraram “palavrões”, mas são necessárias no ambiente escolar.

iG: Fala-se muito em tolerância e respeito em sala de aula. Porém há uma grande diferença entre os dois não?

Helena Sampaio: Tolerar é aceitar passivamente. Respeitar é buscar construir uma relação positiva. A tolerância pode exacerbar o individualismo, e o respeito pode construir o coletivo. Fico com muito medo da cultura da tolerância porque ela pode cair na exacerbação do individualismo. Eu tolero o negro, o índio, o homossexual, mas não permito a troca. Uma cultura da tolerância é a uma cultura de indiferença. As culturas mais individualistas, como a americana, têm uma cultura da tolerância muito forte, mas as pessoas não dizem bom dia, umas para as outras, porque isso significa invadir a privacidade do outro. O grande tolerante é um intolerante, ele não admite a troca, o diálogo.

iG: Então como trabalhar em sala de aula esses conceitos de forma que eles não caiam no individualismo?

Helena Sampaio: Acho que a proposta deve ser sempre de construção de um bem comum e coletivo. Quanto mais individualistas e identitárias as políticas, mais risco corremos de cair na cultura da indiferença, do individualismo. Acho que a gente precisa ressuscitar um pouco a ideia da esfera pública. Por que atos de violência são inadmissíveis? Por que temos regras? Porque estamos numa esfera pública. A escola é uma esfera pública, um espaço comum.

iG: Por que você defende a obrigação do uniforme escolar?

Helena Sampaio: É uma forma de neutralizar as diferenças que não importam. O importante é ter acesso ao conhecimento. Coisas como a roupa dos alunos, o tênis de marca não importam e geram competição, descriminação. Se a gente conseguir minorar essas diferenças não substantivas e começar a trabalhar as diferenças que realmente importam acho que a escola daria um passo enorme em direção ao campo da disciplina. A escola não é local para ostentar identidades. É uma esfera pública para a construção e transmissão do conhecimento. É possível trazer a sua vivência e a contribuição cultural (etnias, culturas imigrantes) àquilo que realmente interessa à escola e ao outro.

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