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sábado, 14 de maio de 2011

Para ser feliz, não vá com tanta sede ao pote


Obsessão pela felicidade
A busca pela felicidade é algo saudável.
Mas alguns pesquisadores começam a alertar que, pouco a pouco, essa busca está se transformando em uma obsessão muito pouco saudável.
Na verdade, a busca pela felicidade já está sendo comparada a uma obsessão religiosa - aquela visão fundamentalista, presente em todas as religiões, em todos os tempos.
Felicidade agora
Depois de um milênio e meio da chamada "cultura ocidental", nem Católicos e nem Protestantes viam a felicidade como algo a ser alcançado. O objetivo sempre fora livrar-se do pecado original, ganhar a salvação e ser feliz só depois da morte.
Mas veio o Iluminismo e, com ele, a noção de que a felicidade era algo para o presente e para esta vida corporal. Não seria necessário esperar pela morte para obter a felicidade - sem contar o risco de não se conseguir alcançá-la.
Renúncia e desprendimento logo deram lugar a outras "virtudes", que deveriam permitir cada vez mais momentos de felicidade.
Mas o filósofo francês Pascal Bruckner aponta é que, embora esse seja um bom objetivo, as pessoas estão se tornando infelizes em nome de sua busca pela felicidade.
"A felicidade se tornou um bem a ser vendido. O capitalismo exige que nós compremos, e, se temos que comprar, temos que buscar nossa satisfação nas compras. É por isso que as maiores lojas e empresas colocam a palavra felicidade em suas campanhas de marketing: 'estamos trabalhando pela sua felicidade', e por aí afora," afirmou ele em um artigo publicado na revista New Scientist.
Felicidade volátil
Esta cultura do consumo vem misturando a felicidade com tudo, incluindo perfumes, cremes, xampus, mas também com a busca por saúde, que logo se transforma em uma busca sem fim pela longevidade e até por uma obsessão por uma inalcançável juventude eterna.
O problema é que a felicidade parece se esvair com o momento da compra. E a última crise financeira mostrou que a maioria das pessoas sequer consegue arcar com suas contas - débitos em parte assumidos em busca da felicidade.
"Mas você não pode comprar a felicidade ou construí-la como uma casa, ou pedi-la como faz com um prato em um restaurante. Ela é muito mais caprichosa e difícil", diz Bruckner.
Caminho para a felicidade
Para ele, o maior obstáculo à felicidade são as próprias pessoas, que precisam se reeducar para atingir seus ideais, vencendo os tabus criados pela sociedade consumista - cujo único compromisso é o próprio consumo.
"O fato de que a depressão seja uma das doenças mais prevalentes hoje deve-se provavelmente ao fato de que a felicidade tornou-se o único horizonte: a depressão emerge quando você não consegue ser feliz, é um colapso interno", afirma.
Como não alcançam a felicidade, em vez de parar e repensar seus objetivos ou suas táticas, as pessoas tentam procurá-la com um afinco cada vez maior, transformando a busca pela felicidade uma tarefa em tempo integral.
"As pessoas estão sempre se perguntando, 'Será que sou realmente feliz?', 'É isto que eu estava procurando?' Em vez disso, elas deveriam assumir uma visão mais relaxada: a felicidade vem e vai", propõe o escritor.
O que é felicidade
Para ele, felicidade é um momento de encantamento, quando as pessoas abandonam suas preocupações e sentem alcançar um estado mental diferente daquele do dia-a-dia.
"O que me faz feliz? Uma boa noite de sono, ter ideais, um bom projeto. Se você tem uma paixão, ela torna sua vida mais fácil, mesmo que você tenha dúvidas ou momentos de tristeza. Ter a felicidade como único objetivo torna as pessoas malucas, é muito difícil, e você não vai saber quando chegou lá porque não há uma definição precisa de felicidade",


Não estejais ansiosos quanto à vossa vida, pelo que haveis de comer, ou pelo que haveis de beber;
nem, quanto ao vosso corpo, pelo que haveis de vestir.
Não é a vida mais do que o alimento, e o corpo mais do que o vestuário?
Buscai primeiro o reino de Deus e a sua Justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas.
Não vos inquieteis, pois, pelo dia de amanhã; porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo.
Basta a cada dia o seu mal."

Jesus (Mateus, 6:24-34
O código Xavier
Chico combinou com três pessoas sinais secretos para que suas mensagens pósmorte fossem reconhecidas. Em Brasília, um médium garante incorporá-lo

Por HUGO STUDART E JONAS FURTADO

Chico Xavier sempre motivou polêmicas proporcionais ao tamanho do mito criado por suas obras espirituais, literárias e sociais. Em vida, alguns seguidores discutiam fervorosamente se ele era a reencarnação de Allan Kardec (fundador da doutrina espírita). O próprio Chico nunca proferiu uma palavra sobre o assunto. Com sua morte, surgiu a expectativa de ele passar a enviar mensagens. Há quem acredite que Chico já esteja se comunicando, mas também existem aqueles que rechaçam a idéia. O debate é acalorado porque antes de morrer Chico teria deixado um código para ser reconhecido por três das pessoas mais próximas a ele: o filho adotivo, Eurípedes Higino dos Reis, a melhor amiga, Kátia Maria, e seu médico, Eurípedes Tahan Vieira. Com base nesses sinais secretos, apenas o trio poderia confirmar quando a espera por um contato do médium chegaria ao fim.
O conteúdo do código é mantido em sigilo absoluto para afastar aproveitadores. "Cada um tem o seu código. Eu não sei o deles, eles não sabem o meu", afirma Kátia Maria, revelando apenas que reconheceria o espírito do médium por palavras précombinadas em meio a mensagens. Eurípedes dos Reis acertou com o pai o que e como ele falaria para não deixar dúvidas de seu retorno. Já o médico Eurípedes Vieira sugere que o sinal que lhe cabe está relacionado à postura de quem receber o contato. "Você identifica as pessoas pelas atitudes. Como médico dele, sabia muito mais do que os outros."
Pois há cinco anos o aparecimento de um espírito que se identifica como Chico Xavier vem ocorrendo em Brasília. A primeira comunicação teria acontecido três meses após sua morte. Diante de seis médiuns do centro espírita Monte Alverne, o médium Ariston Teles teria incorporado Chico Xavier, pedindo preces em favor dos amigos de Uberaba. Chorou quando falou do filho adotivo. A partir de então, o espírito passou a retornar com espaços variados de até dois meses. Teles nunca psicografou o religioso mineiro. Geralmente, ele fala de cinco a dez minutos. São preces, mensagens de conforto espiritual ou notícias para conhecidos. O centro espírita já editou um livro de 94 páginas, Notícias de Chico Xavier, com 18 mensagens e uma hora de CD com a voz do espírito incorporado.
Aos 58 anos, Teles é funcionário administrativo da Câmara dos Deputados. Desde 1975 trabalha sua mediunidade psicofônica (quando o espírito fala através do médium). Ele conheceu Chico Xavier em 1980, em Uberaba. Freqüentou o grupo por dois anos. Então fundou seu centro espírita, o Monte Alverne, que atende em média 1,2 mil pessoas por semana, em passes, palestras e sopão. A última vez que Teles viu o médium foi em 1999. Nessa ocasião, ele teria lhe passado um código para reconhecê-lo em psicofonia. "Eu me pergunto por que Chico não buscou alguém mais evoluído, mais maduro e mais respeitado", diz.
Eurípedes dos Reis garante que seu pai nunca mencionou um código para a psicofonia. Nesses cinco anos, ele recebeu mais de 200 mensagens de gente que teria se comunicado com Chico Xavier. "Respeito todas. Infelizmente, não reconheci meu pai em nenhuma." Kátia e o médico Eurípedes Vieira também dizem não ter identificado os sinais combinados. "Até agora, nada me chamou a atenção", comenta Vieira.
Amigo de Chico Xavier por quase meio século, o médico Elias Barbosa faz parte do grupo que acredita que ele está se comunicando. Embora não tenha se encontrado com Ariston Teles, acha que pode ser real a incorporação. "Já recebi duas mensagens de Chico, de pessoas diferentes, que diziam para que eu continuasse minha tarefa na literatura espírita", diz. "Reconheci Chico pela superioridade moral presente nas palavras."

Para o médium baiano Divaldo Franco, um dos maiores nomes do espiritismo, Chico Xavier deve voltar. Mas tem reservas quanto às notícias de que ele já retornou. "Incorporar Chico daria um certo status à pessoa. Por isso, é preciso cautela", pondera. Ele ainda não viu nenhuma mensagem que se equiparasse ao nível espiritual do médium mineiro. Entre as alardeadas, ao menos. "Tenho a sensação de que Chico já voltou, só que de modo discreto, como foi em vida", resume.

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