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terça-feira, 5 de julho de 2011

Morre o “pai” do Real

Presidente Dilma Rousseff no velório do ex-presidente Itamar Franco, no Palácio da Liberdade, em Belo Horizonte, segunda-feira (4). Ao lado de Dilma, Fernando Henrique Cardoso, Aécio Neves, José Serra, entre outros políticos
Uma longa fila se formou durante todo o domingo (3) em frente à Câmara de Vereadores de Juiz de Fora, Minas Gerais, onde foi velado o corpo do ex-presidente da República e senador Itamar Franco. Segundo a Polícia Militar, mais de 30 mil pessoas passaram pelo local para se despedir de Itamar.
Juiz de Fora, foi onde Itamar impulsionou sua carreira política como prefeito e sempre residiu com suas duas filhas, Georgina e Fabiana.
Na segunda-feira (4), o corpo seguiu para Belo Horizonte, onde aconteceu outro velório. O corpo de Itamar foi cremado, conforme pedido feito por ele, e as cinzas foram depositadas no jazigo da família, no cemitério municipal de Juiz de Fora.
O corpo de Itamar Franco deixou o Hospital Albert Einstein, em São Paulo, em um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) que levou o corpo do ex-presidente de São Paulo a Minas Gerais, em Juiz Fora. O caixão foi colocado sobre um carro dos Bombeiros e seguiu em cortejo pelas ruas até o centro da cidade. Na chegada do corpo a Câmara de Vereadores, a população homenageou o ex-presidente com uma salva de palmas. Cerca de 500 pessoas aguardavam na fila. Os primeiros dez minutos do velório foram reservados à família.

Ex-presidentes chegam juntos ao velório
Os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva, José Sarney e Fernando Collor de Mello e o ministro da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, chegaram juntos ao velório do corpo do senador e ex-presidente Itamar Franco, na Câmara Municipal de Juiz de Fora. Na chegada, Lula foi aplaudido pelos populares que acompanham o velório do lado de fora, enquanto Collor recebeu vaias.

O senador Magno Malta (PR-ES), ao deixar o salão da Câmara onde o corpo de Itamar foi velado, disse que "Itamar teve a coragem de enfrentar a inflação e criar o real". "Deixa um legado de coragem e de determinação. Era um homem público probo neste país, um exemplo para uma juventude que está aí para assumir o País porque a fila anda, afinal de contas", acrescentou.

"É uma perda grande, pois a figura de Itamar marca para nós o fim de uma época em que a gente saía pra comprar leite de manhã e à tarde o preço era outro, com 86% de inflação ao mês." Malta disse esperar que o ex-deputado e presidente do Cruzeiro, José Perrella de Oliveira Costa (PDT), o Zezé Perrella que ficará com a vaga de Itamar no Senado, "seja honesto".
De Juiz de Fora, o corpo do ex-presidente seguiu para o Palácio da Liberdade, em Belo Horizonte, onde foi velado e depois cremado. As cinzas foram levadas para Juiz de Fora e colocadas no túmulo da mãe do ex-presidente. A Presidência da República decretou luto oficial por sete dias.

Em São Paulo, as honras militares antes do traslado do corpo foram feitas na pista lateral do aeroporto. Oficiais da Aeronáutica retiraram o caixão do carro fúnebre, marcharam até o tapete vermelho que levava ao avião da FAB, uma corneta soou, prestaram continência e o caixão foi então levado para dentro do avião, um Hércules bimotor. Familiares, entre eles as duas filhas de Itamar, acompanharam a homenagem e viajaram em outro avião da FAB para Juiz de Fora.

A presidente Dilma Rousseff colocou à disposição o Palácio do Planalto para a realização das cerimônias, mas segundo amigos de Itamar, a família optou por manter os funerais nas duas cidades que mais marcaram a trajetória do senador.

A morte
O senador Itamar Franco (PPS), presidente da República de 1992 a 1994, morreu na manhã de sábado, 02, aos 81 anos, em São Paulo, vítima de leucemia. Ele estava internado no Hospital Israelita Albert Einstein desde o dia 21 de maio e permanecia licenciado de suas atividades no Senado. Nos últimos dias, o senador apresentou um quadro de pneumonia grave e foi transferido para a UTI.

O Hospital Albert Einstein divulgou nota, por volta das 12h de sábado, informando que Itamar sofreu um Acidente Vascular Cerebral (AVC) durante a madrugada e morreu às 10h15. Ele estava internando na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do hospital, em decorrência de uma pneumonia, contraída durante tratamento contra leucemia.

O estado de saúde de Itamar piorou na sexta-feira (1º) quando ele passou a respirar com a ajuda de aparelhos. O senador passou o aniversário de 81 anos, completados em 28 de junho, na UTI do hospital.

Itamar morreu um dia depois do aniversário daquela que é apontada como sua grande obra para o País, a criação do real, moeda que entrou em vigor no dia 1º de julho de 1994.

A doença
A leucemia é um tipo de câncer que atinge os glóbulos brancos, parte do sistema de defesa do organismo, na medula óssea. A doença impede ou prejudica a formação de glóbulos vermelhos e brancos e de plaquetas, causando anemia e abrindo espaço para infecções e hemorragias.

Biografia
Baiano no registro civil, Itamar se tornou um dos mais destacados e comentados políticos mineiros das últimas décadas. Para o País, surgiu na eleição presidencial de 1989, como candidato a vice de Fernando Collor de Mello. Terminou por assumir a Presidência da República após o impeachment do ex-governador alagoano. Mesmo entre os mais críticos, Itamar costumava ser reconhecido pela retidão ética. Igual reconhecimento ele sempre cobrou em relação ao legado da estabilidade do País: econômica, com o lançamento do Plano Real durante seu governo; e política, com a transição após o desastroso desfecho da gestão Collor.

Itamar nasceu em 28 junho de 1930 a bordo de um navio de cabotagem, no mar entre o Rio de Janeiro e Salvador. A mãe, dona Itália Cautier, havia ficado viúva de Augusto César Stiebler Franco pouco antes do nascimento do filho e o registrou na capital baiana, onde morava um tio. Mas Itamar cresceu e tomou gosto pela política em Juiz de Fora (MG), origem de sua família.
Engenheiro civil, formou-se em 1955 e naquele mesmo ano estreou na política se filiando ao Partido Trabalhista Brasileiro (PTB). Em vão, tentou se eleger vereador em 1958 e vice-prefeito, em 1962. Alcançou o primeiro cargo público - a prefeitura da cidade - cinco anos depois, já filiado ao antigo MDB após o golpe militar de 1964 e o estabelecimento do bipartidarismo. Ficou no Executivo municipal até 1971. No ano seguinte, conquistou um novo mandado na prefeitura, mas em 1974 renunciou e foi eleito senador por Minas Gerais.

Já no PMDB, após o restabelecimento do pluripartidarismo, Itamar foi reeleito para mais um mandato de senador em 1982, na chapa que levou Tancredo Neves ao governo de Minas. Em 1986, deixou o PMDB e filiou-se ao PL para disputar o governo de Minas. Acabou derrotado justamente pelo peemedebista Newton Cardoso, que havia lhe fechado as portas no antigo partido.
Itamar voltou ao Senado, participou dos trabalhos da Assembleia Constituinte, mas antes de encerrar o mandato aceitou o convite do então jovem governador de Alagoas, Fernando Collor de Mello, para compor como vice a chapa vitoriosa na campanha presidencial de 1989. O senador por Minas deixou então o PL para ingressar no obscuro Partido da Reconstrução Nacional (PRN). Mas rusgas com Collor começaram ainda na campanha. Tanto que o presidenciável teria solicitado uma consulta ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para saber se poderia trocar seu candidato a vice.

Com o impeachment de Collor, Itamar assumiu formalmente a Presidência em dezembro de 1992. Já havia se desligado do PRN e procurava cada vez mais acentuar as diferenças com o ex-presidente, acossado por uma sucessão de denúncias de corrupção. No cargo, Itamar propôs uma política de entendimento nacional, mas sua gestão derrapava na escolha do primeiro escalão, para onde tinha levado antigos companheiros de Juiz de Fora. Por isso, seu governo passou a ser conhecido como a "república do pão de queijo".

Para cientistas políticos, o momento crucial do governo Itamar, porém, se dá mesmo com a chegada de Fernando Henrique Cardoso ao Ministério da Fazenda, quando começa a implantação do Plano Real que resulta na estabilidade econômica do País. "Itamar foi um personagem errático, seu acerto foi chamar o Fernando Henrique Cardoso", avalia o professor de Ciência Política da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Carlos Ranulfo. á para Rubem Barboza Filho, da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Itamar demonstrou nesse episódio "enorme cálculo político". "Uma aposta que só um político audacioso poderia fazer", observou.

O sucesso do plano econômico impulsionaria a eleição de FHC naquele ano e Itamar ganhou como prêmio as embaixadas brasileiras em Portugal e na Organização dos Estados Americanos (OEA). Mas seu sonho era voltar ao Palácio do Planalto. Ele se sentiu traído quando o Congresso aprovou a reeleição e rompeu relações políticas com seu ex-ministro em 1998. Itamar acusou Fernando Henrique de interferir na convenção extraordinária do PMDB, que lhe tirou a chance de disputar a Presidência naquele ano.

Depois de passar pelo governo de Minas Gerais, Itamar continuou ativo na política nacional e, filiado ao PPS, ele foi eleito senador no ano passado, numa campanha que contou com forte presença de Aécio Neves.

Administração
Itamar foi o vigésimo quarto presidente brasileiro e fez uma administração peculiar. Saiu da Presidência com altos índices de aprovação e elegendo o sucessor (Fernando Henrique), o que não acontecia desde o governo de Arthur Bernardes, que governou entre 1922 e 1926. Além de abrir caminho para a estabilização política e econômica, Itamar cumpriu uma exigência da Constituição Federal de 1988 e realizou um plebiscito para a população escolher o sistema político brasileiro. O regime de República presidencialista foi confirmado na época pela maioria dos votantes.

A administração de Itamar foi relativamente curta: dois anos, três meses e 29 dias. Porém, neste período o governo dele conseguiu fazer a transição de um país recém-saído de uma ditadura militar de 21 anos e que viu o primeiro presidente eleito democraticamente renunciar acusado de corrupção para um país estável politicamente e entusiasmado com o controle da inflação.

Isso não livrou o presidente de enfrentar “turbulências” ao longo da administração. A mais pitoresca delas é conhecida como “crise da calcinha”. No carnaval de 1994, Itamar Franco foi fotografado ao lado da modelo Lilian Ramos em um camarote durante os desfiles das escolas de samba do Rio de Janeiro. A moça não usava sutiã nem calcinha. A foto deixava à mostra o órgão sexual feminino e a história virou escândalo. Autoridades religiosas chegaram a pedir a renúncia de Itamar. Como o longo topete usado por Itamar, a história virou piada.

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