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sábado, 30 de outubro de 2010

O certo pode ser errado

Quem definiu que nossa vida tem que ser assim?Quem decidiu que devemos fazer as coisas de um modo e não de outro?Quem definiu as convenções sociais? Em pleno século 21 ainda estamos presos às amarras de um sistema que paulatinamente tomou conta de nossa vida, nossos pensamentos e ações. Que regras são essas que nos influenciam de tal forma que levamos conosco todas as pré-definições e preconceitos. Gostamos tanto de dizer que somos modernos, livres, democráticos e, com isso, abominamos toda e qualquer movimentação que aparente ser ditatorial. Como nós, que tanto exigimos a liberdade, aceitamos viver sob o conjunto de crenças introduzidas na sociedade por pessoas como nós, simples mortais. Não temos então um paradoxo?
Como abominamos as formas ditatoriais e aceitamos viver sob uma convenção de regras e acordos sociais que sequer sabemos o motivo pelo qual seguimos. Quem tem este direito de nos garantir que a maneira como vemos e vivemos as coisas é válida? Toda forma de viver é válida, sem que precisemos de tutores. Quem são estes que pregam o bem estar social e as regras que devem ser aceitas? Por que viver sob o julgo daqueles que impõem valores e crenças e, propositalmente, se apropriam do termo opinião pública como forma de validar o discurso de um determinado grupo da sociedade?
Milan Kundera, em “A insustentável leveza do ser” introduziu o conceito de Nietzsche, trazendo a teoria de que não existia superioridade dos homens em relação aos animais, no entanto, o homem cria a vontade de Deus para aceitar  e justificar as ações humanas. Deus criou o homem para viver da maneira que vivemos hoje, ou o homem criou a figura de Deus -um ser supremo que rege nossas vidas- como forma de justificar as imposições e convenções sociais?
Em sua obra “A insustentável leveza do ser”, o autor revelou personagens nada convencionais, que, de tão excêntricos, deveriam ter ido além das páginas de um livro. Tomas, um dos personagens, coloca em cheque os valores tradicionais da sociedade como o amor e o sexo. Tomas afirmava que entre o amor e o sexo há diferenças e longas distâncias. Tomas amava a esposa,Teresa, mas via em cada uma das mulheres uma singularidade que não era possível apenas imaginar, e essa distância entre o imaginário e o real deixa um espaço. Essas eram as lacunas que Tomas queria preencher e descobrir. Para ele, não havia traição, já que com Teresa havia o sentimento real dele para ela, já com as outras o sentimento era uma espécie de aventura.
Não seria necessário seguir este modelo, mas, por que não pensar em como seria se pudéssemos levar a vida como Tomas, construindo nossos próprios valores e modos de viver? E por qual motivo não podemos?Por que o fato de apenas pensarmos nestas possibilidades nos incomoda tanto?Por que estranhamos aquilo que soa diferente daquilo que segue o padrão da construída e produzida opinião pública?
Existem personagens na vida real tão excêntricos quanto Tomas. César Castro é músico e escritor, mas, acima de tudo, um ser indefinível – como prefere ser visto. Sinto-me no direito de causar impacto no ser convencional – que por ventura atentar-se para esta leitura- com a observação de um ser real, mas não convencional: “O conceito de traição e fidelidade conjugal é certamente uma gaiolinha muito pequena, bem como o próprio conceito de gêneros e até mesmo a própria identidade. Eu escolho ser para mim mesmo todas as mulheres que me fascinam, e a minha mulher certamente poderia estar me traindo com todos os personagens das minhas histórias que transbordam para minha personalidade. Mas o conceito de pluralidade me encanta. Ele está próximo da lógica da natureza. E a aventura também, dependendo de que tipo de animal você é ou quer ser.” (César Castro Rosa)

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