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sábado, 30 de outubro de 2010

Crimes que ficaram na memória

Museu da Polícia Civil expõe desde a história da corporação até os objetos originais de crimes que abalaram São Paulo

Eram altas horas da madrugada quando empregada e patroa tiveram o sono interrompido pela presença de um estranho no quarto. Acácio acabava de invadir a residência, localizada em Higienópolis, bairro nobre de São Paulo. Com o auxílio de um macaco de automóvel arrombara as grades e agia com sua lanterna de luz propositalmente vermelha.
Mil cruzeiros novos. Essa era a recompensa para quem capturasse o temido bandido. Conhecido por acordar as pessoas da casa que assaltava e então roubar seus objetos de valor, o delinqüente tinha como marca sua lanterna. O “Bandido da Luz Vermelha“, João Acácio Pereira da Costa, nascido em 1942, era o terror da sociedade paulista da época. Foi condenado pela morte de quatro pessoas, sete tentativas de assassinato e setenta e sete roubos.
Embarque: Porto de Santos (SP). Destino: Bourdeux (França). Era esse o trajeto a ser percorrido pela misteriosa mala que atravessaria o Atlântico dia 07 de outubro de 1928, não fosse um pequeno incidente na hora de acomodar a bagagem. A trava da mala deslizou e ocasionou uma pequena abertura, o suficiente para que o mau-cheiro se espalhasse e a estranha secreção começasse a escorrer.  Assim o Crime da Mala acabava de ser descoberto. Giuseppe Pistone matara sua mulher, Maria Fea. Após esquartejá-la o assassino encaixou-a na mala que, por fim, foi aberta cerca de três dias depois do crime. A mala mais polêmica da década de 30, hoje pode ser vista detalhadamente no Museu da Polícia Civil.
Essa e outras histórias estão expostas no Museu da Polícia Civil, conhecido popularmente como Museu do Crime, que teve início como uma forma de deixar as aulas da academia de polícia mais didáticas. Em 1970 o museu foi transferido do bairro da Liberdade para a Cidade Universitária (atual sede). Foi formado pela reunião de objetos apreendidos nos inquéritos policiais que eram encontrados em locais de crime, suicídios ou mesmo em posse de criminosos.
Cláudia, 35, agente de trânsito da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) visitou o museu durante o intervalo de um curso que fazia na Cidade Universitária. Apesar de se deparar diariamente com acidentes de trânsito ficou impressionada ao ver a sala de “Medicina Legal”: “fiquei chocada ao ver os fetos (consequências de aborto)”.
O Caminho do Crime
O Museu do crime oferece aos visitantes uma sensação de proximidade com a cena dos delitos. No local de entrada há um Fusca de 1963, antiga viatura de polícia. Variados tipos de drogas ilustram, até mesmo para os visitantes de ensino fundamental, os perigos que envolvem o mundo das drogas ilícitas. Além das amostras dos tóxicos, o museu expõe objetos apreendidos que auxiliaram no transporte de maconha e cocaína como sapatos e caixas de doces. A sala de entrada abriga mãos e braços de bonecos que possuem tatuagens feitas na cadeia e a cada uma delas foi dado o significado tido no mundo do crime.
A sala intitulada de “Medicina Legal” oferece o primeiro impacto de imagens que impressionam o visitante. Nela encontram-se imagens cruas de necropsia de pessoas que foram esfaqueadas, por exemplo. Há prateleiras com objetos utilizados em abortos e fetos em variados estágios de desenvolvimento. Outra sala simula uma cela de prisão, que chega a abrigar mais de 30 pessoas. Com instalações precárias e sem higiene tem-se noção de como é o espaço físico do sistema penitenciário. A porta da cela é uma porta trazida das instalações do Carandiru.
O Museu do Crime conta com a exposição de representações dos criminosos mais famosos que aterrorizaram São Paulo como Francisco de Assis Pereira (Maníaco do Parque – 1998), João Acácio Pereira da Costa (O Bandido da Luz Vermelha – 1966), José Pistone (O Crime da Mala – 1928), entre outros.
Dois espaços são dedicados ao treinamento de policiais: é o caso da “Simulação de Local de Estupro” em que uma cena é montada para que o policial identifique os detalhes do crime. O espaço de “Simulação de Local de Crime” traz a representação de cômodos de uma casa com diversos indícios de ação criminosa.
Armas construídas por presos, história da Polícia Civil, configuração antiga de delegacias e informações sobre o Serviço Aerotático da Polícia Civil do estado de São Paulo são temas abordados pelo museu.

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