Eu sempre adorei contos de fadas. Acho que por isso fiquei horrorizada quando chegou às minhas mãos o livro Troco o príncipe encantado pelo lobo mau. Mas depois olhei melhor para a capa e notei que ela continha a foto de um homem sem camisa com um tanquinho invejável. Decidi que poderia valer a pena ler o primeiro capítulo para ver se estou desatualizada e agora o lobo mau não é mais tão mau assim.
O livro da jornalista espanhola Raquel Sánchez Silva pretende mostrar como a mulher moderna é refém de ideias ultrapassadas, presentes nos contos de fadas. Segundo a autora, a mulher atual “deseja uma troca de papéis nos contos de fada. Sem meios-termos. Da boazinha para a malvada. Uma mulher livre de fraquezas aparentes que foge das cores pastéis”. Não tenho nada contra as cores pastéis, mas tudo bem. Entendi a ideia.
Os nomes dos capítulos são ótimos. “Mate a Sininho e envelheça comigo” aborda o ciúme louco que sentimos das amigas e ex-namoradas dos nossos namorados. “Traições da fada madrinha” fala das fura-olhos (aquelas meninas que usam a amizade para tentar seduzir nossos homens). Já “Uma supernanny para o Peter Pan” é sobre os diferentes tipos de homens imaturos. Mas o meu capítulo favorito foi “Uma noite de sexo com o Capitão Gancho”, sobre o uso de vibradores. Confira um trecho:
“Quando sua mãe descobre sua primeira bala prateada não sabe se é o último iluminador da Dior ou o parafuso que faltava naquela mesa de design divino que você comprou duas semanas atrás. Ela nunca saberá quem é você. Chega-se a essa primeira reflexão madura sem grandes dificuldades. Acontece com todas nós. Não se preocupe. O que você ainda não percebeu é que viver é compartilhar e talvez um bom consolador ou vibrador seja o que falta para que você e sua mãe possam afinal conversar no mesmo plano, sem os traumáticos e esgotantes cruzamentos de ego, superego e tudo o mais. Um bom papo sobre um vibrador e logo, logo as bobagens são deixadas de lado. Por sua mãe também.”
Eu nunca conversei com a minha mãe sobre vibradores. Acho que se o fizesse ela talvez enfartasse novamente. Mas o livro é divertido e mostra bem o seu ponto: às vezes é mais legal ser a rainha malvada, com suas roupas góticas incríveis, do que a princesa perfeitinha com o vestido de mangas bufantes. A leitura é gostosa, mas Troco o príncipe encantado pelo lobo mau não é do tipo de livro que dá vontade de ler todo de uma vez. Na hora de fazer as metáforas com os contos de fadas, a autora força um pouco a mão. No meio dos capítulos a comparação se perde, e dá lugar a temas atuais, como relacionamentos, canalhice e homens em geral. Senti um pouco de falta de uma estrutura narrativa melhor, que tornasse as abobrinhas sexuais mais contextualizadas, como em O diário de Bridget Jones, de Helen Fielding, ou que explorasse com mais poesia o cotidiano, como em É claro que você sabe do que eu estou falando, de Miranda July. Mas se o objetivo for matar o tempo, o livro garante boas risadas.
Você acha que os contos de fadas são machistas? Prefere fugir do príncipe e cair nas garras do lobo mau
- Com certeza o lobo mau é beeeeeeeeeeeeeeeem mais interessante que o Príncipe Encantado! Vamos combinar que mulher nem gosta de homem bonzinho né? E dos perfeitos então? Nada como um ser imperfeito, e com muita pegada!
Agora para quem quer casar, é melhor continuar acreditando no felizes para sempre. Principe é que é para casar. Lobo mau é para meninas ousadas que adooooooooooram ser malvadas!
Claro que os contos de fada são machistas! TOdas as princesas – talvez, com exceção da Bela – esperam os seus princípes para salvá-las, numa atitude passiva e dependente, completamente diferente do que as mulheres vivem hoje.
O problema é que eles criam fantasias nas nossas cabeças de meninas que levamos por toda a nossa vida. Que é bem diferente dos contos de fada. Aí, dá problema
- Se são machistas ou não, o que sei é que sonhei anos com príncipe encantado. Aliás, o lobo mau também é fascinante, porque, apesar de querer a chapeuzinho, não se abstém de comer a vovó, kkkkkUm pouco de utopia e fantasia faz parte da vida. Desde que a nossa existência não se resuma a ela.
Beijinhos,
http://diariodeumamulherdespeitada.wordpress.com/2011/03/31/conversas-de-mulher-2/
Contos fadados
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Era uma vez… Uma Lola que se pegou lembrando dos contos de fadas que escutamos quando crianças. Sempre existe uma moça eternamente jovem, indefesa, magra, linda, dependente e boazinha à espera de um príncipe guerreiro e heroico que atravessa as mais perigosas florestas de espinhos, derrota o dragão com uma mão amarrada às costas e não precisa de ajuda de ninguém, porque ele é o cara e tem obrigação de dar conta de tudo sozinho. Do outro lado aparece aquela mulher feia, gorda, de nariz grande e verrugoso, de cabelo ruim com a qual não devemos nos enganar, pois ela sempre será muito malvada, invejosa e feiticeira.
Me desculpem, mas é quase impossível não perceber a semelhança com alguns aspectos dessa cultura alastrada na atualidade. Nossa pebada (do acreanês “de baixa qualidade”) sociedade coloca como aceitáveis e desejáveis alguns insólitos padrões de beleza e renegam as fêmeas que não estão dentro desses padrões, fazendo com que estas sempre apareçam como as bruxas da história. E se a dita “bruxa” for uma companheira compreensiva, carinhosa e ajudadora? Será que ela também não merece encontrar seu príncipe encantado? Talvez não haja homem suficientemente inteligente pra perceber que por trás da bruxinha feia pode existir uma companheira que lhe dará muito amor. Será que alguém já parou pra pensar que a coitadinha pode ser só traumatizada e cheia de neuras por ser preterida e odiada a vida inteira? Talvez, se você olhar bem, aquilo lá não é um caldeirão de feitiços, é uma panela de fondue de chocolate te esperando pra saborear.
E pensando nos príncipes imagino que com aquelas perninhas finas eles não derrotariam nem uma lagartixa, tampouco um dragão. Mas falando sério, será que é tão homossexualizante assim um macho humano pedir ajuda e admitir uma fraqueza? Será que eles pensam que procurar cuidados médicos quando sentem uma dor irá diminuir a testosterona e deixá-los menos heroicos? E porque um macho man não pode pedir colo e carinho à sua companheira quando se sentir triste ou carente? Wake up guys! Foi-se o tempo em que menino não podia chorar.
Admitir que a floresta esteja difícil de vencer sozinho e que para matar um dragão todo dia é preciso de alguém protegendo a retaguarda não é vergonha nenhuma. A responsabilidade que colocam sobre os ombros masculinos às vezes é bem injusta. O príncipe precisa sim de auxílio para vencer o dragão e sentir-se cuidado e protegido por alguém dá força e ânimo novo pra prosseguir batalhando.
Padrões de comportamento são mais facilmente imantados e moldados nas mentes durante a infância. Não subestimem nunca o poder do inconsciente humano, especialmente nas primeiras fases da vida. Tudo que entra na mente permanece escondido em algum lugar e às vezes se manifesta no futuro e determina em muitas ocasiões nossos padrões de comportamento e nossos ideais de vida. E outra, o que se faz na infância geralmente é treino para a vida adulta. Ok, ok, toda regra tem exceção, mas não conte com o fato de que você é uma, ou que seu filho será.
Que pareça bobagem, mas se o garoto aprende que seu brinquedo é só e obrigatoriamente a espada de guerreiro e que é feio ter uma boneca bebê nos braços em algum momento, como ele vai ter naturalidade para trocar fraldas do seu filho sem encucações quando o tiver? Se a menina entende que o bonito e aceitável é ser sempre a princesa que não consegue bater um prego em barra de sabão e espera que alguém a salve de tudo, como ela entenderá facilmente que ser mulher vai muito além de vender beleza e esperar pelos outros? E se por acaso a princesinha crescer e ficar gordinha, com o nariz de batata herdado do papai ou da mamãe e com um cabelo que não é aquele loiro lisinho que ela via nas gravuras, será que ela vai se olhar no espelho e ver uma bruxa feia que sempre vai se dar mal no fim?
Fico aqui matutando. Será que de alguma forma esse ideal de beleza e heroísmo estabelecido na nossa sociedade não estaria de certa forma ligado, ainda que indiretamente, a bulimias, anorexias, zilhões de tratamentos capilares agressivos e cirurgias sem número? O problema, meus caros, não é o conto de fadas em si. O problema é o uso que se faz dele. O mal não está em contá-lo e sim em como será contado e como serão aplicados os ensinamentos que porventura estejam escondidos nele. É bom que durante toda a contação da história haja um narrador com os pés bem firmes no chão até chegar em… E foram felizes para sempre.
Nossa, Bruna, você escreve muito bem! Também sou daquelas que sempre preferiu o lobo mau, mas estou revendo meus conceitos. Atualmente, estou mais para um bom vibrador do que para carne de terceira, kkkkkkkkkkk Beijinhos e muito sucesso com seu blog. Vou indicá-lo no www.diariodeumamulherdespeitada.wordpress.com
ResponderExcluirEntendo kkkkk ainda não tive nem tempo para comprar um consolo desse kkkkk Mais valeu a dica amada kk
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