Ela ficou, olhou pra porta que batida com tanta força, bateu e abriu de novo, rangendo devagar como se chorasse a passagem que acabava de permitir. Não tinha coragem de fechá-la e a deixou semi aberta por toda a noite esperando que ele voltasse. Seus olhos que já não fechavam impedidos por lágrimas cristalizadas. Não podia perder segundos piscando. Ele poderia voltar a qualquer momento e ela queria assistir a sua volta em versão não editada.
Sentou-se de frente pra porta e lá passou horas, semanas, primaveras, esperando o momento em que ele entraria munido de rosas colombianas e desculpas de amante latino. Ela tinha um SIM entalado na garganta que lhe fazia querer vomitar todos os dias uma aceitação que sequer tinha sido pedida.
Os dias começaram então a se arrastar em uma valsa lenta que chegava a fúnebre. O Sol já se negava a entrar pela janela, que trocando o turno com a Lua, se escondia no alto do telhado pra não servir de inspiração dolorosa. Tudo era cinza, desde o fundo até o centro. Desde o meio, até o começo.
Ela já ouvia o cansaço reclamar nos seus ouvidos, dizendo ser a hora de se levantar e fechar a porta, que de semi aberta já se encontrava quase fechada. Sem ter mais condições de sofrer, decidiu empurrar a fresta que faltava...
Os primeiros dias foram dolorosos, até o Sol se permitir visitas constantes, e a Lua que cheia de ser minguado quis virar cheia de esperança. A vida dava sinais de recuperação, e as expectativas foram abandonadas em um canto poeirada.
Até que um dia bateram em sua porta. Não era ele, mas era o par de olhos mais lindos que ela já tinha visto.
E de um sussurro com vontade de virar pedido, ele disse: " Foi daqui que pediram uma porta nova pra coração partido?" ...
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