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domingo, 19 de setembro de 2010

Falar mal do parceiro denuncia a própria incapacidade de fazer escolhas

Se existe um lugar interessante para ouvir histórias sobre a vida alheia, com certeza, esse lugar atende pelo nome de clínica de estética ou salão de beleza. Mais do que isso, você pode voltar para casa com uma nova receita, enquanto você espera pode ler revistas famosas e saber tudo sobre as celebridades, ouvir as dicas das atendentes – de tanto conhecer as histórias – acabam virando conselheiras. Bem, ali existe cumplicidade, sempre tem alguém pra te levantar se você estiver deprê. As clientes abrem suas vidas e contam “quase” tudo. Os assuntos em pauta podem ser: falar mal dos parceiros, traição, as peripécias dos filhos, um novo par amoroso, sucesso profissional, networking - troca de cartões - com possibilidade de captar novos clientes, alguma piada e com a garantia de voltar para casa mais leve e mais bonita. Sim, voltamos com o cabelo arrumado, depilação em dia, unhas na cor da moda, massagem e com tudo mais que a clinica oferece e o nosso cartão de crédito libera.
Recentemente, enquanto folheava uma revista, observei que uma das clientes começou a falar mal do marido. Ela parecia ansiosa e com necessidade de desabafar, enfim, dividir suas angústias. Passou a descrever como ele se porta socialmente e sobre a sua desconfiança de infidelidade. Rapidamente um grupo de oito mulheres entrou na discussão. Em alguns momentos ela até encontrava justificativas para ele agir dessa forma. Afinal, o pai era mulherengo e a fruta nunca cai longe do pé... Bem, fiquei surpresa com o que passei a ouvir a partir deste momento. A pobre senhora ansiava por uma “luz” – alguma dica, sugestão, conselho – enquanto isso as demais passaram a falar mal dos próprios parceiros – maridos, namorados e namorantes.

Cada qual com os seus problemas e com as suas histórias. Fiquei imaginando o que esses homens fariam ao ouvir tudo aquilo. Até porque imagino que um grupo de oito homens nunca vai ficar falando mal das esposas. Provavelmente, numa roda de amigos o assunto pode ser a mulher dos outros, sexo, crise mundial, futebol, ou não? Óbvio que o homem também fala mal da parceira. Mas, suponho que ele divide o assunto com alguma pessoa muito íntima e não em público.
A verdade é que homens e mulheres criticam o comportamento dos cônjuges dentro e fora de casa. Nenhuma daquelas mulheres da clínica se deu conta de que ao desqualificar o cônjuge, se desqualificava a si mesma. Privacidade parece andar fora de moda. Aparecer a qualquer custo é sinônimo de aceitação. Qualquer barraco, em poucos minutos na internet, pode render milhares ou milhões de cliques. Será que perdemos a noção de cumplicidade, companheirismo, intimidade e discrição? Ou será que nos deixamos conduzir e seduzir pelos “reality shows” – onde tudo pode?
Todavia, se observarmos bem é possível encontrar pessoas viciadas em falar mal dos outros. Quem fala mal do par amoroso, também fala mal do chefe, do vizinho, do filho e do ex. Parto do princípio que uma pessoa segura de si própria, quando não pode falar bem de alguém, não fala mal. Até porque quem fala mal se autodenigre e com isso perde a credibilidade. E, ninguém aguenta ficar ao lado de alguém cujo assunto predileto é falar mal dos outros.
As pessoas se revelam nas relações. Continuar ao lado de alguém confirma as escolhas feitas. Portanto, cada um tem o parceiro que merece... Ninguém tem culpa se no auge da paixão a pessoa idealizou demais o escolhido. Certamente, acreditou ter encontrado um príncipe encantado que com o passar do tempo virou sapo. O apaixonado só vê aquilo que quer ver. Mas, quando as diferenças e os conflitos aparecem a tendência é culpar o outro, sim! Seja por insegurança, problemas com auto estima ou para mostrar-se superior como uma forma de autodefesa. O ideal é o casal conversar sobre as diferenças e os defeitos de cada um. Ficar junto e a toda hora falar mal do par denuncia falta de capacidade para fazer escolhas. Quem fala mal da cara metade, fala mal de si mesmo.

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