Páginas

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Aprenda a domesticar os homens Aplicar técnicas de adestramento em namorados e maridos funciona. Aprenda alguns comandos aqui!

É possível adestrar seres humanos. A jornalista americana Amy Sutherland fez isso. Durante um ano ela acompanhou alunos de uma escola de treinadores e aproveitou para aplicar as lições em casa, tendo Scott, seu companheiro da espécie Homo sapiens, como cobaia. Amy relatou os resultados (superpositivos!) em uma coluna no The New York Times.

O texto fechou o ano como o mais acessado do período. A história virou livro – What Shamu Taught me about Life, Love and Marriage (O que Shamu me Ensinou sobre Vida, Amor e Casamento) –, lançado há dois meses nos Estados Unidos e ainda sem previsão de sair no Brasil (Shamu, no caso, é a famosa baleia símbolo do parque aquático Sea World). Com a experiência, a jornalista passou a ser notícia – mas ganhou também, o que é melhor, uma vida bem mais zen ao lado do marido.

''Antes, determinadas ações do Scott eram vistas por mim como uma prova de desamor'', escreve Amy em seu livro. ''Bons treinadores pensam em comportamentos apenas como comportamentos. Não ficam questionando se eles estão certos ou errados.''


Nada de cara feia

A autora irritava-se muito, por exemplo, porque Scott tinha mania de voltar dos passeios de bicicleta e deixar short e camiseta suados espalhados pelo chão. Pediu diversas vezes, em vão, que ele se lembrasse de usar o cesto de roupas sujas. Até que resolveu não fazer nada. ''Ignore as ações que quer eliminar e parabenize aquelas que pretende incentivar'', ensina a autora, citando a regra número um dos adestradores. Amy parou de implicar com a trilha de roupas de Scott. E deu um beijinho de agradecimento no marido numa tarde em que ele se lembrou de abandoná-las no lugar certo. Foi agindo assim, e, com o passar do tempo, ele já visitava o cesto com muito mais freqüência. ''Percebi que o Scott era avoado mesmo e que os esquecimentos dele não representavam uma afronta.''

A partir do livro da jornalista-domadora, pedimos ao psiquiatra Luiz Cuschnir, especialista nas diferenças entre homens e mulheres, para comentar alguns ensinamentos. Também convidamos quatro garotas para aplicar as regras em seus relacionamentos. A médica Laura Porto, 25 anos, se espantou ao perceber que ela própria já havia sido adestrada pelo namorado, também médico, 30 anos. Ciumenta, Laura pegava no pé dele quando os dois começaram a ficar juntos, seis anos atrás. ''O Marcelo ignorava minhas cenas de ciúme ou fazia piada'', conta. ''Dizia coisas como ‘Nossa, pelo jeito você está com fome, melhor eu te ligar daqui a pouco’ e desligava o telefone.'' Com isso, Laura acabou mudando seu comportamento. ''Aprendi que a frase ‘Quando um não quer dois não brigam’ faz todo o sentido. O Marcelo nunca me deu motivo para desconfiar dele, então entendi que o problema estava mesmo em mim.''


Dê bronca sorrindo

A farmacêutica Luciana Anadoll, 27 anos, também adotou a técnica de fingir não notar as ações, digamos, incômodas. Moradora de Belo Horizonte, ela namora há dez meses um paulista, com quem conversa por MSN diariamente, sempre por volta das sete da noite. Vitor, alguns dias, não entra na internet no horário habitual e se esquece de avisar sobre a mudança de planos. ''Esse tipo de coisa sempre me fez dar escândalo. Até que me dei conta de que se, em vez de brigar, eu desse o recado de uma forma mais positiva, tudo se resolveria sem estresse.'' E assim foi feito. Vitor sumiu e Luciana só foi procurá-lo três horas depois da ''hora do MSN'', com o discurso ''Nossa, amor, o que aconteceu? Você desapareceu, fiquei imaginando que alguma coisa pudesse ter acontecido...'' Ponto para ela, segundo o doutor Cuschnir! ''Homem não gosta de ser cobrado, de ser convocado a dar explicações. Muitas vezes, a escolha do tom ou das palavras certas faz toda a diferença.''

Conscientizar-se das características típicas de cada sexo ajuda a evitar brigas. ''Conheça o animal que quer treinar, veja o mundo pelos olhos dele'', aconselha Amy Sutherland. Mulheres, quando marcam de sair com o namorado ou marido, ''chegam'' ao encontro horas antes – gastam tempo pensando na roupa, cabelo e maquiagem que irão usar, fantasiam o que vão dizer e ouvir. ''Os homens, ao contrário, nem no trânsito, já a caminho do compromisso, pensam nele'', diz Cuschnir. ''É só quando chegam lá mesmo!''

A estudante de direito Marcela Silveira, 22 anos, sabe bem o que é isso. Ela coleciona brigas com o namorado, seu colega de faculdade, porque vira e mexe ele desmarca saídas em cima da hora, preferindo ver os amigos. ''Às vezes, eu já estou toda arrumada quando sou informada de que não vai rolar'', conta Marcela. ''Como temos cinco anos de namoro, sinto que é preciso ter tolerância para essas coisas, porque passou aquela fase de querer ficar grudados o tempo todo.'' Marcela resolveu criar o hábito de confirmar o encontro antes de começar os preparativos. Uma boa sacada, já que algumas atitudes são mesmo impossíveis de serem modificadas. Essas, no caso, podem ser combatidas com o que os adestradores chamam de ''comportamentos alternativos''. Não há como ensinar um pássaro a deixar de pousar (afinal, é da natureza dele), mas é possível conseguir que ele desista de pousar na sua cabeça e passe a usar cobertores colocados no chão, por exemplo. Amy viu treinadores fazerem justamente isso durante a realização, numa ilha de um filme, prejudicado pelo ataque de aves ao elenco.

Carolina Sampaio, publicitária, 22 anos, desistiu de esperar que Lucas, seu namorado, se lembrasse dos aniversários de relacionamento e outras datas. ''Depois de muita briga, ele acabou colocando um lembrete no celular.'' Muitas vezes, a melhor maneira de resolver um conflito é mudar o próprio comportamento – ''Esse é o único sob o qual se pode ter absoluto controle'', diz Amy. De acordo, Luiz Cuschnir se despede de nossa repórter com uma mini bronca bem- humorada: ''Um jornalista homem nunca viria aqui atrás de receitas para domesticar as mulheres. Isso é coisa feminina!''. Mas quem sabe os conselhos não sirvam também para que a gente aprenda a se auto do mar?

Nenhum comentário:

Postar um comentário