À custa de economias e dificuldades, esposas e mães de detentos se esmeram para enviar a eles, religiosamente, a cesta básica de produtos de higiene, roupas e comida essencial para sobreviver na cadeia
O discurso das quatro mulheres que serviram de fonte para esta reportagem é essencialmente o mesmo: elas trabalham a dupla jornada e gastam quase tudo o que têm para cuidar de maridos e filhos. Mas não se trata do exagero que permeia muitos discursos femininos. O quarteto lida com uma condição delicada e angustiante: seus maridos e filho são presidiários. Quando se trata de enviar o jumbo, cesta básica de alimentos, roupas e produtos de higiene, via correio ou mesmo visitar seus familiares, sobra muito trabalho e falta dinheiro. Enquanto cedem a entrevista para Época São Paulo, vigiam os filhos que correm em volta e olham a panela que deixaram no fogo, se sentem mais seguras para criticar o tratamento recebido por elas e pelos parentes. Marta, Carla, Jaqueline e Cleide* gastam até 500 reais para enviar pelo correio, pelo menos uma vez por mês, caixas forradas com produtos de higiene, doces, camisetas, cobertores, tênis e cigarro. Nem tudo pode ser enviado, seja pela quantidade, em geral 12 quilos por envio, ou pela periculosidade, ou seja, alimentos perecíveis ou que podem servir de esconderijo para armas (como ovo de páscoa ou biscoito recheado) e objetos que podem ser transformados em armas (como calçados com fivelas). Roupas “incrementadas” – o que pode significar apenas uma camiseta com duas cores – também estão proibidas para não violar o padrão de vestimenta dos detentos. Vale a pena Para visitar o marido em Guarulhos, na Penitenciária Desembargador Adriano Marrey, Marta, 33 anos, sai de casa às cinco da manhã, chega no destino uma hora depois, e vai para uma pensão nos arredores. A pensão onde ela e outras mulheres ficam, é, na verdade, o barraco de moradores da favela que circunda a penitenciária. Nos barracos, paga-se 10 reais para dormir, dois reais por um banho e cinco para cozinhar. Contando com o jumbo, Marta gasta cerca de 300 reais cada vez que visita o marido, de 15 em 15 dias. “Tudo o que eu ganho é pra ele”, diz ela, que trabalha como manicure. Mais que sabonete e comida, faz falta para o marido um advogado. “Ele tinha que ser julgado há quatro meses. Para pagar um advogado, tenho de tirar do jumbo”, explica.
Carla, 28 anos, viaja mais de oito horas à noite para visitar o marido em Osvaldo Cruz. O ônibus em que viaja é clandestino, mais barato. Ainda assim, ela gasta cerca de 500 reais na viagem, contando com o valor das passagens, pousada, jumbo e a comida que leva para dividir com o marido na cadeia – em geral, pão de forma e frios. “Não consigo comer a comida da prisão, é nojenta. Os presos comem porque estão acostumados. Mas meu marido conta que muitas vezes eles têm que lavar o arroz já pronto e fazer de novo, senão não dá pra engolir”, relata.
Seja bem-vindo
Cintos ou sapatos com fivela, brincos, anéis e sutiãs com estrutura de ferro não podem ser usados pelas mulheres dos detentos na hora da visita. “Dependendo do humor da funcionária, até maquiagem a gente tem que tirar”, reclama Carla. Há quem opte em alugar peças de roupas com vendedores ambulantes. Mulheres alugam chinelos, calças de moletom e sutiã sem ferro a cinco, 10 reais a peça. O aluguel de barracas e colchonetes a 15 reais também é comum. E dá pra ir mais longe: nos dias de visitas, cabelereiras e manicures – em geral parentes de presos também – aproveitam para ganhar um extra cuidando da aparência das colegas de espera.
A visita dura cerca de quatro horas. Nesse período, as mulheres procuram dar conforto aos seus parentes não só pelo que dizem, mas também pelo que não contam. Para não preocupá-los, elas evitam falar, por exemplo, sobre os esforços para chegar até ali com o jumbo ou mandá-lo via correio. No caso das esposas, a visita íntima acontece num espaço cuja única intimidade é garantida por lençóis ao modo de cortinas.
Para ela, que nunca havia passado pela experiência de ter um familiar preso, a ida do marido para a penitenciária a obrigou a se despojar de alguns preconceitos, entre eles, o de achar que mães, irmãs e esposas de presos não eram pessoas dignas de confiança. “Achava uma loucura quando amigas e colegas se arrumavam para ir ver o marido preso. Só depois eu percebi uma diferença importante: o fato de eles terem errado não significa que a gente errou também”, afirma Carla.
* Todos os nomes foram trocados a pedido das entrevistadas.
SOU ESTUDANTE DE SERVIÇO SOCIAL E FAÇO PESQUISA SOBRE MULHERES DE PRESOS.
ResponderExcluirQUEM PUDER ENTRAR EM CONTATO COMIGO,AGRADEÇO.
VERONICA SANTOS
meu face é veronica lima
ResponderExcluirmeu email:veronicasantosdesouza@gmail.com