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quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Os solteiros e as leis do mercado


Tenho lido tanta coisa nesse site: uns reclamando que levaram fora, outros reclamando que falta mulher de cabeça certa no mercado, outras ainda reclamando que os homens vêm, passam uma noite e vão embora. E nos comentários uma reclamação generalizada – da qual eu também faço parte – sobre solidão e desencontros amorosos, com uma ou outra pitada de humor. Daí pensei: pobres de nós, moços e moças solteiros e largados, a espera do grande amor, da paixão fulminante, do badalar dos sinos para viver um grande amor!
Teoricamente, um encontro real dessas almas sofredoras do campo virtual – sugerido em comentários de um post anterior – resolveria boa parte desses desencontros e talvez até promovesse vários casamentos e, quem sabe até mesmo o fim desse blog! TEORICAMENTE. Por que?
Porque as pessoas andam muito atrás da embalagem e não querem conhecer o produto. Não sei que tipo de ideal criamos, que não estamos mais dispostos a lapidar as pessoas em busca do que elas tem de melhor. Basta que você esteja acima do peso ou com idade um pouco passada pra que ninguém queira te olhar. Ou ainda, basta que se mostre bem interessada e séria – no caso de uma mulher – ou muito apaixonado – no caso de um homem – pra levar um fora na primeira investida. E o pior: basta que se apresente o primeiro sinal de humanidade – um defeito – pra que as pessoas corram léguas.
Sempre digo que as pessoas procuram coisas certas nos lugares errados. Não adianta querer profundidade nos relacionamentos com uma pessoa extremamente cobiçada que acha que tem um mundo ao seu dispor. Não adianta também achar que tem chance com alguém que de tão narcisista, não consegue olhar pra nada além do seu umbigo e se considera superior demais pra dar chance pra alguém que não seja, “no mínimo”, perfeita como ela. Não adianta achar que sinceridade e demonstração de interesse são suficientes pra aquela pessoa que você curtiu se interessar ou, pelo menos, ser gentil com você. Por que? Porque temos nos tratado como produtos, e por isso mesmo, cada vez mais “produtizados”, estamos seguindo leis do mercado. Exemplos? Seguimos a lei da oferta e da procura: quanto maior a oferta – quanto mais você dá o seu coração, a sua simpatia, o seu interesse e o seu respeito – menor a procura – ou seja, pra que vou querer ficar com alguém piegas, pegajoso, meloso, que não me oferece um mínimo de mistério ou de dificuldade? Pra que vou querer uma mulher “facinha”, se num estalar de dedos posso levá-la pra cama? Seguimos a prerrogativa de que a propaganda é a alma do negócio – quem pode, investe na exposição do corpo, dos atributos físicos e da carteira recheada, mesmo que o “produto” apresente defeito alguns meses depois, afinal você comprou pela beleza, pela grana e não pela qualidade…
E, finalmente, seguimos a máxima de que tudo é descartável e se torna obsoleto após o uso: ignoramos as pessoas ao primeiro sinal de mal humor, estupidez, tristeza, raiva, carência ou quaisquer outros “defeitos de fábrica”, porque afinal, há tantas ofertas tentadoras, que pode-se facilmente substituir aquele produto estragado por outro, novinho em folha, mais bonito, mais moderno, que tenha mais “a sua cara”.
Esquecemos de olhar para os lados e procuramos sempre o melhor, porque os bons marketeiros nos fizeram uma lavagem cerebral tão aguda que para nós, o que não é simplesmente “o melhor”, não serve. Choramos o fora que levamos ontem e esnobamos quem está ao nosso lado “pagando um pau” pra nós há séculos. E nessa vamos passando os dias, reclamando do que foi, lamentando pelo que poderia ter sido e não foi, suspirando pelo que foi e não é mais… lamentando os domingos vazios.
Não digo em pegar qualquer coisa, se sujeitar a qualquer amorzinho inventado ou ficar com um alguém que sequer te chama a atenção só pra se conformar. Só bastaria abrir o coração e olhar mais sensivelmente pros lados. E parar de seguir essas malditas leis de mercado.

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