Dá-me almas ou morrerei!
No tabernáculo judaico havia um compartimento tão sagrado que somente o sumo-sacerdote poderia entrar uma vez por ano. Podíamos ver diariamente em cena este quadro na vida de Hyde, quando ele encontrava-se com Deus. São cenas demasiadamente sagradas para olhos comuns, e hesito em relatá-las aqui.
Mas ao lembrar-me de Jacó no vale de Jaboque, de Elias no Carmelo, de Paulo em agonia espiritual por Israel e, especialmente, do querido Mestre em agonia no Getsêmane, então sinto que estou sendo impelido pelo Espírito de Deus a relatar tais experiências, para admoestação e inspiração.
Colocando-nos ao lado do quarto de Hyde, podemos ouvir suspiros, sentir gemidos e contemplar o querido rosto banhado, repetidamente, de lágrimas. Podemos fitar o corpo enfraquecido após dias sem comer e noites sem dormir. Ali podemos ouvir, entre soluços, o insistente clamor: "Ó Deus, dá-me almas ou morrerei!"
Hyde foi levado a trabalhar na Índia impressionado pela morte de seu irmão mais velho, que preparava-se para ser missionário no exterior. Decidiu-se ir somente um ano depois, quando, ao término do seminário, pediu a um colega seu que lhe apresentasse todos os argumentos que pudesse sobre o trabalho missionário no estrangeiro. Seu colega retrucou que ele não precisava de argumentos, mas de prostrar-se de joelhos diante de Deus e assim permanecer até resolver em absoluto a questão. Na manhã seguinte, o brilho no seu rosto refletia a decisão que tomara!
Embarcou no outono de 1892 rumo à Índia. Os dias seguidos de somente água o levaram a um exame próprio e à oração. No início da viagem, ele recebeu uma carta de um amigo de seu pai, que muito desejava ser missionário mas que era impossibilitado de fazê-lo. Ela instava em que Hyde buscasse o batismo com o Espírito Santo como habilitação essencial na obra missionária.
Isto aborreceu Hyde, pois insinuava que ele ainda não havia recebido o Espírito Santo. Irritado, amassou a carta e jogou-a no convés, mas, mais tarde, com mais juízo, apanhou-a e releu, reconhecendo então que carecia de algo que ainda não havia recebido.
Assim, entregou-se por toda a viagem à oração, para que fosse, de fato, cheio do Espírito Santo e soubesse, por uma experiência autêntica, o que Jesus queria dar a entender quando disse: "Recebereis poder, ao descer sobe vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém, como em toda a Judéia e Samaria, e até aos confins da terra" (Atos 1:8).
E, a essas orações a bordo, veio maravilhosa resposta.
Os primeiros anos na Índia
A princípio Hyde não era um missionário conceituado. Era pesado de língua e não ouvia bem. Quando acontecia de ouvir e também entender a pergunta formulada a ele, demorava em formular a resposta. Os amigos receavam de que não aprendesse a língua nativa.
Era, por natureza, calmo e quieto, e parecia faltar-lhe o fundamental em um missionário: entusiamo e iniciativa. Mas os seus olhos azuis pareciam penetrar as profundezas do íntimo das pessoas. Pareciam brilhar da alma de um profeta!
Chegando na Índia, descuidou-se um pouco no estudo da língua, a ponto de ser reprovado num exame lingüístico. Ele dizia: "o que é de primeira importância deve ocupar o primeiro lugar". Explicava que tinha ido à Índia para ensinar a Bíblia, e, para tanto, era necessário conhecê-la. E o Espírito Santo abriu-lhe o entendimento de modo maravilhoso!
Mas não desprezou o estudo, chegando a falar muito bem o urdu e o punjabi. Sobretudo, aprendeu a falar a língua dos céus, deixando auditórios de centenas de indianos boquiabertos perante as verdades da Palavra de Deus.
Em todo avivamento sempre há duas partes: a divina e a humana. Em alguns, como no de Gales, a parte divina foi mais acentuada, e praticamente não havia organização e pregação. Mas o avivamento de Sialkot, apesar de também vir do alto, não parecia tão espontâneo: havia - sob a direção de Deus - organização, e planos eram realizados, além de longos períodos de oração.
Antes de continuar a mostrar a importância da parte humana, quero descrever os princípios da Associação de Oração de Punjab. Eles foram criados mais ou menos no tempo da primeira convenção em Sialkot (1904), e foram redigidos em forma de perguntas, que eram assinaladas pelos que desejassem tornar-se seus membros:
1. Estás orando, pedindo um avivamento para a tua vida, para a vida dos teus companheiros de trabalho e para a Igreja?
2. Estás anelando mais poder do Espírito Santo na tua própria vida e serviço, e estás convicto de que não podes avançar sem esse poder?
3. Orarás pedindo graça para não te envergonhares de Jesus?
4. Crês que a oração é um grande meio de alcançar um despertamento espiritual?
5. Reservarás trinta minutos diariamente, logo após o meio-dia, para orar pedindo esse despertamento, e estás pronto a orar até que venha o despertamento?
Os membros da associação erguiam os olhos da fé - conforme a ordem de Cristo - e contemplavam os campos brancos para a ceifa. No Livro liam as imutáveis promessas de Deus. Percebiam que o único método de adquirir tal despertamento era por meio de oração. Então mantinham em seus corações deliberada, definitiva e determinantemente o propósito de usar a oração até alcançarem o resultado.
O avivamento de Sialkot não foi por acaso, nem um sopro que veio do Céu, sem ninguém o buscar. Carlos Finney disse que um avivamento não é maior milagre do que uma colheita de trigo. Em qualquer lugar pode-se obtê-lo quando almas valentes entrarem na luta determinadas a vencer ou morrer - ou, se for necessário, vencer e morrer. "O reino dos céus é tomado à força e os que se esforçam são os que o conquistam" (Mt.11:12).
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Este texto é um resumo do primeiro capítulo do livreto "O Homem que Orava" (Praying Hyde), de Francisco A. McGraw, editora CPAD